Carolina Cotta
postado em 09/12/2014 08:34
Belo Horizonte ; Em uma temporada pela Europa, o ainda jovem Nando foi ao sul da Itália conhecer Stromboli, um vulcão ativo em cuja base teimosos e destemidos pescadores e pequenos comerciantes decidiram se instalar. A subida até o topo da montanha era íngreme e, apesar de não estar passando por um surto de esclerose múltipla, doença crônica do sistema nervoso que há pouco tinha descoberto, ficou claro que seu desempenho atlético estava abaixo do habitual. Lá do alto, Nando sentiu uma impotente, mas serena, pequenez. ;Senti-me pequeno ante a realidade. Minhas dores e mazelas me pareceram insignificantes e absolutamente desprezíveis;, conta o ator, palhaço e escritor Nando Bolognesi, hoje com 46 anos. A história dá nome ao livro que lançou recentemente, Um palhaço na boca do vulcão (Editora Grua), um relato de sua vida a partir do diagnóstico da esclerose múltipla.
Em 1990, depois de concluir as faculdades de economia, pela Universidade Federal de São Paulo (USP), e de história, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Nando partiu para a Europa, onde moraria por um ano. Tinha 21 anos. Em Londres, trabalhava para um indiano do qual admirava a sabedoria. Nos fins de semana, jogava futebol na quadra de uma escola, mas começou a perceber que estava jogando pior e tropeçando muito. Já na Holanda, foi viajar de bicicleta e a perna direita não firmava: a solução foi amarrar o pé ao pedal, o que resultou em repetidos tombos. Nenhum desses episódios nem os frequentes tropeços chamaram muito a atenção dele.
Passados alguns meses, já decidido a se tornar ator e fazendo um estágio na Fiat de Turim, na Itália, ele percebeu ter perdido a força em uma das mãos. Voltou ao Brasil para fazer uma série de exames e foi diagnosticado com esclerose múltipla. Ainda assim, cursou a Escola de Arte Dramática da USP, atuou em teatro e cinema e transformou-se no palhaço Comendador Nelson, integrante dos grupos Doutores da Alegria e Jogando no Quintal, e criador do Fantásticos Frenéticos.
O avanço da doença foi lento, mas persistente. Logo que voltou para o Brasil, em 1991, Nando teve um período de dois anos de trégua. Entre 1993 e 1994, passou por quatro ou cinco crises. ;Era penoso caminhar, as pernas ficavam bobas e praticamente não as sentia do joelho para baixo. Os surtos foram se tornando cada vez mais severos e, num certo fim de semana, durante um espetáculo, minhas pernas debilitadas me traíram e me levaram ao chão. Humilhação. Chorei escondido. A barra estava pesada demais. Por alguns dias, me deprimi;, lembra o ator.