Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

União de duas terapias consegue reabilitar pacientes que sofreram derrame

Segundo cientistas da Bélgica, tratamento agiliza a recuperação de problemas de linguagem e de fraqueza muscular



[SAIBAMAIS]Uma delas é a estimulação transcraniana por corrente contínua, um método não invasivo usado para impulsionar a atividade dos neurônios. Alguns estudos sobre a aplicação dessa técnica em pessoas que sofreram AVCs indicam bons resultados, ressalta Laloux. Outro tratamento utilizado há muito tempo e incorporado na pesquisa belga foi o reaprendizado motor. ;Em outras palavras, significa aprender a reconfigurar toda a rede cerebral associada às tarefas motoras para melhorar o planejamento, a execução e o controle dos movimentos do membro afetado. Na reabilitação pós-derrame, o reaprendizado motor desempenha uma tarefa central;, explica Yves Vandermeeren, neurologista de Namur e coautor do estudo.

Os pesquisadores recrutaram 19 pacientes para testar se, juntas, as duas técnicas ofereceriam melhores resultados que quando aplicadas separadamente. Os voluntários participaram de um experimento duplo cego ; quando nem o cientista nem o participante do estudo sabe quem está recebendo o tratamento real ou o placebo ; no qual executaram os exercícios de reaprendizagem enquanto ocorria a estimulação craniana por corrente contínua. Na semana seguinte, voltaram ao laboratório para verificar se tinham retido o aprendizado, isso é, se ainda conseguiam fazer os movimentos. Ao mesmo tempo, eram escaneados por ressonância magnética, um exame não invasivo que mapeia a ativação das regiões cerebrais.

Cérebro ativado

Embora a performance dos movimentos não tenha diferido muito, os 10 voluntários que, de fato, fizeram sessões de reabilitação motora enquanto eram submetidos à estimulação elétrica demonstraram uma melhor fixação do aprendizado na semana seguinte, comparado aos nove que estavam no grupo de placebo. O exame de ressonância magnética foi o que mais surpreendeu os pesquisadores. ;Em apenas uma semana, houve um resultado incrível, com as regiões cerebrais ativadas quase da mesma maneira que de uma pessoa que não sofreu um acidente vascular;, diz Vandermeeren.

David Wright, neurologista da Universidade de Manchester que estuda estratégias de reabilitação pós-derrame, observa que, depois de um AVC, partes do cérebro morrem e não se recuperam mais. ;Para compensar, outras regiões podem alterar suas funções a fim de tomar controle do comportamento perdido ; uma forma de plasticidade cerebral;, diz. Wright, que não participou desse estudo, acredita que estratégias combinadas podem beneficiar mais os pacientes trazendo impactos significativos para a melhoria da qualidade de vida dos sobreviventes de AVCs.

;Embora pacientes com afasia tendem a recuperar de forma considerável após o derrame, a maior parte das reabilitações demora até seis meses para ocorrer e são, de certa forma, incompletas. A grande parte dos pacientes continua a sofrer importantes deficits crônicos e, para eles, o tratamento convencional mostra-se menos efetivo;, avalia Wright. ;Portanto, há uma necessidade cada vez maior de desenvolver novas intervenções.; Mesmo entusiasmado com os resultados, ele observa que novos estudos com uma quantidade mais expressiva de participantes precisam ser feitos para que se confirme os achados da equipe belga.