Roberta Machado
postado em 11/01/2015 08:07
Como uma vidente que examina as linhas das mãos de um cliente, cientistas vasculham cada área do cérebro do paciente à procura de respostas sobre o futuro. Eles acreditam que a mente possa guardar informações não somente sobre doenças, mas também sobre traços de personalidade e tendências comportamentais que o indivíduo nem tenha desenvolvido ainda. São os neuromarcadores, características físicas que podem ser detectadas em imagens de exame de ressonância magnética e revelar a complexa natureza do comportamento humano. Desvendar esses sinais, defendem alguns pesquisadores, tornaria possível o tratamento de distúrbios, a prevenção de problemas de aprendizado ou até mesmo o combate a vícios de forma mais eficiente e personalizada. O tema, contudo, gera polêmica e envolve complexos debates éticos.
Provavelmente, a maneira mais óbvia de empregar essa técnica seria antes de um tratamento clínico, como forma de apontar qual a melhor abordagem para aquele paciente. No caso de pessoas que sofrem com um vício, por exemplo, há diversos sinais que indicam se um indivíduo tem uma tendência maior a sofrer uma recaída depois de um tratamento. Os exames preventivos poderiam ser aplicados até mesmo no início da vida, quando a neuroimagem é capaz de acusar se a criança tem uma predisposição a experimentar bebidas alcoólicas mais cedo, ou se ela é mais sensível aos efeitos de drogas ilegais.
Um teste com imagens de alimentos também poderia indicar se o paciente é mais inclinado a buscar a comida como recompensa, uma relação que pode levar à obesidade. De acordo com pesquisas feitas na última década, um exame na amígdala, a região do cérebro envolvida na resposta ao medo e a outras emoções negativas, é o suficiente para saber se o tratamento contra a depressão terá resultados meses depois. O neuroprognóstico ainda poderia indicar, por exemplo, se o indivíduo responde aos medicamentos, ou se uma terapia comportamental bastaria para resolver o problema.
No entanto, a detecção de neuromarcadores ainda não é rotina no tratamento de distúrbios neuropsicológicos. ;Exames de imagens nos mostraram que há diferenças específicas em distúrbios psiquiátricos, e isso é importante, mas como essa informação pode levar a benefícios práticos?;, questiona John Gabrieli, professor de tecnologia e neurociência cognitiva no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele é um dos autores de um artigo publicado na semana passada na revista Neuron, no qual ele analisa como as últimas duas décadas de pesquisas na área da neuroimagem indicam que características estruturais e funcionais do cérebro estão associadas a determinados comportamentos, e como essa predição pode ser usada para ajudar as pessoas.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.