Ciência e Saúde

Técnica de reprodução inédita salva garoupa-verdadeira da extinção

O peixe é bastante apreciado na culinária brasileira, mas o consumo predatório tem reduzido a quantidade de espécimes na natureza

Jacqueline Saraiva
postado em 22/01/2015 11:35
Um projeto brasileiro desenvolveu uma técnica de reprodução inédita no mundo que tem ajudado a evitar a extinção da chamada garoupa verdadeira (Mycteroperca marginata). O peixe está entre as espécies globalmente ameaçadas de extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). Uma base do Projeto Garoupa foi montada em Ilhabela (SP) para a larvicultura da espécie, que consiste na criação de larvas de peixes em cativeiro para reprodução assistida em tanques com cuidados especiais como controle de temperatura e salinidade da água. As desovas no local totalizam mais de 1 milhão de larvas geradas.

A reprodução em cativeiro se torna o caminho mais viável para repor as populações para o consumo de forma sustentável

[SAIBAMAIS]Segundo os responsáveis pelo projeto, o principal objetivo é aumentar ainda mais a quantidade de larvas, uma vez que, do total, sobrevivem apenas entre 5% e 10% da desova inicial. A garoupa é bastante apreciada na culinária brasileira, mas o consumo da espécie tem sido predatório. Dessa forma, a reprodução em cativeiro se torna o caminho mais viável para repor as populações para o consumo de forma sustentável. O peixe marinho carnívoro mede entre 1,60 m e 1,70 m, e pesa entre 80 e 90 kg. Ele se alimenta de lulas, polvos, sardinhas e bonitos, entre outros peixes, e vive nas águas do Brasil, da África, do Caribe e do Mar Mediterrâneo.



Os especialistas no tipo de reprodução atuam em sete municípios do Rio de Janeiro (Angra dos Reis, Itaguaí, Mangaratiba, Paraty, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios) e quatro de São Paulo (Ubatuba, Ilhabela, Caraguatatuba e São Sebastião). O projeto, patrocinado pela Petrobras, trabalha com o reconhecimento dos habitats desse peixe, locais que oferecem abrigo e alimento à garoupa. Abrange a coleta de dados físicos desses habitats, tais como a quantidade e o tamanho das tocas do peixe, a temperatura da água, medida várias vezes ao dia, e detalhes sobre a topografia da região.

O trabalho de pesquisa reúne dados biológicos, tais como a quantidade de peixes existentes, a identificação de cada um por fotos e a identificação de bentos, seres que vivem próximos ou grudados ao substrato marinho e servem de alimento à fauna. A sobrevivência dos peixes é monitorada na natureza através de técnicas como a telemetria, que é a obtenção, processamento e transmissão de dados à distância.

Além do trabalho de preservação, o Projeto Garoupa também faz um trabalho de educação ambiental com crianças e adolescentes de escolas públicas, além de comunidades quilombolas, indígenas, de pescadores e turistas, de acordo com o engenheiro de pesca, mestre em Biologia Marinha e coordenador geral do Projeto Garoupa, Maurício Roque da Mata Júnior.

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