postado em 11/03/2015 15:19
O câncer se torna cada vez mais comum entre jovens, e a quimioterapia, tratamento que destrói as células cancerígenas do corpo, pode causar infertilidade e menopausa precoce. O congelamento de óvulos é um avanço da medicina que serve como alternativa para quem ainda quer ter filhos: "Hoje, pacientes de câncer têm prognósticos melhores e maior tempo de vida. Eles querem preservar a fertilidade", afirma a doutora Rosaly Rulli, coordenadora do serviço de reprodução humana e diretora do Centro de Ensino e Pesquisa em Reprodução Assistida (Cepra) do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB). Segundo a médica, a procura pelo procedimento é relativamente alta e tende a aumentar. A taxa de sucesso - "um bebê em casa depois de nove meses", na definição de Rulli - após a implementação chega a 40%.Vânia Castanheira descobriu aos 31 anos que tinha câncer da mama, em 2013. No mesmo dia que o médico a avisou da quimioterapia, também preveniu dos efeitos colaterais do tratamento. Vânia teve que tomar uma decisão rápida: teve até o dia seguinte para decidir se queria congelar os óvulos. "Aquele foi o pior dia da minha vida, pois eu queria engravidar e descobri um câncer", conta. O processo resultou na coleta de 11 embriões, que estão congelados até hoje. Ela afirma que ainda vai tentar conceber naturalmente: "Foi mais um seguro de maternidade para que não nos arrependamos mais tarde", completa. Hoje, ela conta suas experiências com a doença e a cura no blog "Minha Vida Comigo", que até virou livro.
Para o especialista em reprodução assistida Vinicius Medina Lopes, o problema está na falta de diálogo entre pacientes e médicos. Ele afirma que poucos pacientes recebem a indicação do oncologista para procurar o tratamento; muitos deles só percebem a necessidade depois que o procedimento já não é mais viável. Recorrem, então, à inseminação artificial realizada com óvulos doados. Segundo Rosaly Rulli, o HMIB trabalha para conscientizar os médicos da importância de avisar os pacientes sobre as possibilidades de congelar o material genético e, depois da cura, realizar a fertilização in vitro.
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Apesar de promissor, o tratamento não é acessível: segundo Lopes, o custo fica entre R$12 mil e R$ 15 mil. Além disso, há uma taxa de manutenção anual de aproximadamente R$1 mil. O HMIB é um dos sete centros do Brasil que oferecem reprodução assistida gratuitamente, mas a procura para os serviços é grande e a fila de espera pode desencorajar possíveis pacientes. Rosaly Rulli espera que, em um prazo de dois anos, o departamento seja ampliado e tenha uma ala só para o congelamento de óvulos e espermatozóides.
Há também um limite de idade: no HMIB, o procedimento não é realizado em pacientes a partir dos 40 anos, período na vida da mulher no qual os óvulos já têm idade avançada e o risco de insucesso é alto: parte deles pode ser destruída no descongelamento. As normas para reprodução assistida do Conselho Federal de Medicina, publicadas em 2013, limitam a idade máxima em 50 anos.
Procedimento
Há dois métodos para o congelamento de óvulos: no mais antigo, o material é protegido com uma substância e congelado gradualmente. O mais recente, chamado de vitrificação, é um processo rápido e abrupto, o que dificulta a formação de cristais, que podem romper os óvulos.
O material coletado pode ficar congelado por anos e não existe um tempo limite. No entanto, a qualidade do procedimento aumenta o tempo de validade do óvulo. Se a paciente desistir da inseminação, os óvulos congelados podem ser descartados ou doados (para outras pessoas ou para pesquisa).
As chances de sucesso dependem muito da idade da mulher, tanto na coleta dos óvulos quanto depois, na implantação deles. A quantidade de óvulos que uma mulher tem ao longo da vida já é determinada na juventude: eles são produzidos uma só vez e liberados aos poucos. Isso significa que quanto mais velha a mulher, mais velho o óvulo ; e menos fértil.
;Há riscos, como em qualquer procedimento médico, até o mais simples;, explica Rosaly Rulli. Antes da coleta, a paciente recebe alta dosagem hormonal, que pode gerar reações ou até a produção exagerada de hormônios ; a síndrome do hiperestímulo ovariano. Em casos mais graves, podem ocorrer sangramentos ou infecções.