Ciência e Saúde

Alimentos contaminados já mataram 351 mil pessoas nesta década, aponta OMS

Organização lança, na próxima semana, campanha para melhorar a segurança da cadeia produtiva

Isabela de Oliveira
postado em 03/04/2015 07:55

Doenças provocadas por alimentos e água contaminados têm consequências devastadoras para a saúde e a economia de um país, independentemente do grau de desenvolvimento da nação. Para se ter uma ideia, estima-se que mais de 2 milhões de pessoas, a maioria criança, morram anualmente em decorrência dessas enfermidades. Diante das ameaças, a Organização Mundial da Saúde (OMS) usará o Dia Mundial da Saúde, celebrado no próximo dia 7, para alertar sobre a necessidade de promover ações internacionais que englobem toda cadeia de abastecimento de comida.

Embora as doenças de origem alimentar recebam pouca atenção, são um grave problema de saúde pública. Em conjunto, somam pelo menos 200 problemas, desencadeados por bactérias, parasitas, vírus e substâncias químicas. No melhor dos casos, o paciente sofre apenas com náuseas e diarreia leve. Porém, podem surgir quadros mais graves, como insuficiência renal e hepática, distúrbios neurais, artrite reativa, câncer e até levar à morte.

A campanha a ser lançada pela OMS na próxima semana se chama ;Do campo ao prato, torne os alimentos seguros;. Ontem, a organização começou a divulgar os primeiros resultados de uma análise sobre a atual carga global de doenças transmitidas por alimentos. Desde 2010, foram registrados pelo menos 582 milhões casos de 22 doenças entéricas transmitidas por produtos alimentícios ; pouco mais de 40% eram crianças com menos de 5 anos. No total, foram 351 mil mortes, a maior parte causada por Salmonella typhi (52 mil óbitos), Coli enteropatogênica (37 mil) e norovírus (35 mil). E esses números ainda podem subir quando a análise for concluída ; os resultados finais devem sair em outubro.

Sem fronteiras


Historicamente, doenças ligadas à alimentação são mais comuns no interior, onde a comida, por exemplo a carne, é produzida e consumida em casa. Como nem sempre os animais são criados em condições ideais, acabam portando e transmitindo toxinas e vermes, sendo o Taenia solium, causador da enfermidade conhecida como ;solitária;, um deles. Porém, segundo a OMS, essa não é mais a regra.

Nas últimas décadas, os sistemas de produção e transporte de alimentos foram adaptados para funcionar em uma rede global. O lado ruim do processo é que os agentes causadores de doenças podem entrar na cadeia de abastecimento. Para a entidade de saúde, a globalização da distribuição aumenta a probabilidade de as doenças atravessarem fronteiras nacionais.

Um exemplo disso ocorreu em São Paulo, em 2005, quando o município registrou um surto de difilobotríase, enfermidade transmitida por um parasita de peixes. Os casos foram registrados em 20 pessoas que comeram sushi e sashimi em restaurantes da cidade. A suspeita incidiu sobre o salmão, que, com o robalo, é o principal hospedeiro do verme causador da doença, o Diphyllobothrium spp. Hoje, assim como há 10 anos, praticamente todo salmão consumido no Brasil é importado do Chile. Outro caso foi um surto de febre aftosa na Inglaterra que chegou à França e, depois, se espalhou pela Europa em 2000.

;Um problema de segurança alimentar local pode rapidamente se tornar uma emergência internacional;, diz Margaret Chan, diretora-geral da OMS, acrescentando que a investigação de surtos de doenças transmitidas por alimentos é muito mais complicada quando um pacote de comida contém ingredientes de vários países. ;Muitas vezes, é preciso uma crise para que a consciência coletiva seja agitada, e uma medida séria seja tomada;, completa Kazuaki Miyagishima, diretor do Departamento de Segurança dos Alimentos e Zoonoses da OMS.

Salmonela

Embora os alimentos industrializados sejam submetidos a criteriosos processos de fabricação, eles continuam suscetíveis à contaminação, especialmente por bactérias. A salmonela é uma das mais recorrentes. Em 2013, nos Estados Unidos, cerca de 250 pessoas de 18 estados adoeceram após consumirem frango infestado pelo micro-organismo. O mesmo ocorreu na Holanda, no ano anterior, com 950 doentes e três mortos. No Brasil, 18% dos casos de doenças provocados por comidas registrados entre 2000 e 2014 foram devidos à salmonela.

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