Isabela de Oliveira
postado em 09/04/2015 06:20
Histórias como a da Lua são difíceis de contar. Muitas teorias tentam remontar como o satélite que hoje encanta os terráqueos nasceu. A versão mais aceita por cientistas diz que, há 4,45 bilhões de anos, Theia, um corpo do tamanho de Marte, se chocou contra a Terra. Os dois objetos eram, à época, planetas em formação ; ou protoplanetas ; viajando velozmente por um Sistema Solar que tinha apenas 150 milhões de anos. Na batida, um pedaço de rocha teria se desprendido. Era a Lua.O problema é que a chamada Hipótese do Impacto Gigante deixa alguns pontos sem explicação. Segundo vários modelos, esse ;acidente espacial; deveria gerar um satélite cuja constituição tivesse 60% de similaridade com Theia. Como explicar, então, o fato de a composição lunar ser quase idêntica à terrestre? ;Essa semelhança representa um grande desafio para o modelo padrão do impacto gigante porque entra em conflito com questões relacionadas ao manto do planeta que atingiu a Terra;, explica a astrofísica Alessandra Mastrobuono-Battisti. Pesquisadora do Instituto Israelense de Tecnologia, ela é a principal autora de um estudo que pode ter elucidado o mistério, publicado na revista Nature.
A cientista explica que as semelhanças entre ;mãe; e ;filha; são detectadas, especialmente, nos isótopos, versões dos elementos da tabela periódica com quantidades de nêutrons diferentes dos originais. Para saber o que realmente aconteceu, a equipe de Mastrobuono-Battisti fez diversas simulações em computador das grandes colisões sofridas por 80 protoplanetas do Sistema Solar inicial. Além desses corpos, que tinham até 10% do tamanho da Terra, os cientistas incluíram no modelo objetos menores, os planetesimais, que tinham mais ou menos um quarto da massa terrestre.
TRÊS PERGUNTAS PARA
Paulo Henrique Azevedo Sobreira, professor do Planetário da Universidade Federal de Goiás
; Como surgiu essa ideia de que um corpo estranho se chocou à Terra e deu origem à Lua?
Antes da visita dos astronautas e da coleta de amostras na superfície da Lua, ninguém sabia de onde ela tinha vindo, se veio prontinha ; e, nesse caso, precisaria ter composição diferente da Terra ; ou se saiu de dentro do planeta, que girava muito rápido e acabou ejetando o satélite. Essa ideia foi proposta no século 19 pelo filho de Charles Darwin, George. Sendo assim, ela seria realmente igualzinha à Terra. Mas as amostras mostraram algumas pequenas diferenças, dando lugar para as ideias de que poderia resultado do impacto de outro corpo com a Terra.
; E como Theia chegou perto da Terra?
O que se imagina é que na origem do Sistema Solar, deveriam existir centenas de corpos com dimensões parecidas com a da Terra e da Lua. Alguns dos corpos tinham órbitas mais circulares, e outras mais ovais. Essas certamente se chocaram com as órbitas circulares, tendo suas massas somadas e dando origem a corpos planetários maiores, ou asteroides. Theia certamente tinha uma órbita mais alongada, se não, por algum motivo, foi desviado de sua trajetória. Naquele tempo, a Terra era toda derretida, tendo apenas núcleo e manto. Theia devia ser assim também, e é possível que seu núcleo tenha sido totalmente somado ao do nosso planeta. A lua tem o manto da Terra e, talvez, deste outro planeta também.
; Quais implicações desse impacto, além da formação da Lua?
Quando houve o impacto, a Terra recebeu um ;empurrão; e passou a girar mais rápido. O dia passou a ter 16 horas. Mas isso mudou com o tempo. Por exemplo, no Jurássico, com os dinossauros, o dia tinha 22 horas e agora já tem 24. Além disso, a Terra esfriou rápido e surgiram os oceanos, que são influenciados pela Lua. As marés sobem e descem duas vezes por dia, mas, conforme a Terra gira mais devagar, a Lua se distancia de dois a quatro centímetros por ano. Uma teoria defende que em três milhões de anos, ela estará tão distante que vai influenciar pouco as marés. Júpiter que vai ser a maior força, e isso vai bagunçar o nosso eixo, provocando mudanças climáticas violentas. A órbita da lua está inclinada em 5; em relação a orbita da Terra em torno do Sol, o que explica porque não temos eclipeses todos os meses. O impacto explica até essa órbita, pois pode ser que ele tenha ocorrido meio inclinado também.