Ciência e Saúde

Técnica de análise do DNA de tumores pode induzir médicos ao erro

Método usado para definir tratamentos personalizados detecta mutações naturais do paciente que nada têm a ver com a doença. Saída é sequenciar também os tecidos saudáveis e comparar as amostras

Paloma Oliveto
postado em 16/04/2015 08:21
Método usado para definir tratamentos personalizados detecta mutações naturais do paciente que nada têm a ver com a doença. Saída é sequenciar também os tecidos saudáveis e comparar as amostrasA era da medicina genômica já chegou para alguns pacientes oncológicos. A análise do DNA de determinados tumores, como o de mama, o glioblastoma e as leucemias, tem ajudado a personalizar o tratamento, ao identificar as mutações responsáveis pela replicação desordenada das células. Assim, é possível escolher o medicamento mais adequado, com maiores chances de vencer o câncer. Contudo, esse método também pode mascarar determinadas alterações, levando o clínico a optar pela terapia errada. O alerta é de um estudo da Faculdade de Saúde Johns Hopkins, nos Estados Unidos, publicado na revista Science Translational Medicine. A solução, de acordo com os pesquisadores, é sequenciar também o tecido saudável, uma prática muito pouco usada atualmente.

Os pesquisadores analisaram o genoma tumoral de 815 pacientes com 15 diferentes tipos de câncer, incluindo os de cérebro, mama e pulmão. Eles estudaram o resultado apenas do tecido doente e, depois, compararam os dados obtidos ao sequenciamento do tecido saudável. ;Nós descobrimos que as análises apenas do tumor fornecem informações imprecisas;, contou Victor Velculescu, principal autor do estudo, em uma teleconferência transmitida pela internet. ;O sequenciamento somente do tumor identificou um número de mudanças nas sequências que não tinham a ver com o câncer, ou seja, eram alterações ;falso positivas;. Algumas delas ocorrem em genes que já são alvo de terapias personalizadas e poderiam, portanto, levar os médicos a adotar tratamentos inadequados;, revelou.

[SAIBAMAIS]A médica imunologista Angela Colmone, editora associada da revista, explicou que nem toda variante representa, de fato, um risco à saúde. ;Por todo o corpo, existem mutações normais, que em nada contribuem para o crescimento do tumor. Quando se vê as variantes apenas no câncer, isso pode levar o médico a crer que elas têm responsabilidade sobre a doença e, caso existam medicamentos-alvo para atacá-las, naturalmente esse será o foco da terapia. Mas a pesquisa apresentada agora mostra que a análise apenas do tumor pode não ser suficientemente precisa porque muitas mutações identificadas no câncer também existem no tecido saudável ; portanto, elas não têm de ser combatidas, já que não são elas que estão contribuindo para a doença.;



No sequenciamento do tumor, os pesquisadores identificaram, inicialmente, 382 alterações que poderiam estar relacionadas ao surgimento do câncer. Em seguida, eliminaram mutações germinativas ; variações nas células germinais, que serão herdadas pela descendência e estarão presentes em cada célula do corpo sem, contudo, provocar danos. Mesmo depois desse pente-fino, quando os cientistas compararam o sequenciamento do tumor ao sequenciamento dos tecidos saudáveis, constataram que 249 mutações ; 65% do total encontrado ; eram falsos positivos. Elas estavam nos tumores, mas também nas células sadias e, portanto, não tinham nada a ver com o câncer.

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