Paloma Oliveto
postado em 17/05/2015 07:58
Na era Google, não existe pergunta sem resposta. Quantas páginas havia na internet no mês passado? O próprio buscador dá o feedback em 0,68 segundo: 1 bilhão de sites ativos. Os nomes das 14 luas de Netuno e suas respectivas fotos estão a um clique de distância, assim como a filmografia completa de Alfred Hitchcock, os fatores de risco do câncer de mama e o número de tatuagens de Angelina Jolie (17). De dados importantes à cultura inútil, boa parte do conhecimento produzido no mundo está ali. Tanta informação deveria deixar a humanidade bem mais inteligente que no passado. Mas há controvérsias.O debate não chega a ser novo. Desde meados da década de 1990, discute-se o impacto da web no cérebro. A novidade é que, se até 10 anos atrás, muito do que se dizia ficava no campo das opiniões pessoais, agora começam a ser publicados resultados de pesquisas robustas que investigam essas questões. Os estudos fornecem evidências científicas sobre a forma como a internet está remodelando as habilidades cognitivas. Apesar de os gurus da internet defenderem com garras e dentes que os jovens nunca foram tão espertos quanto agora, um corpo crescente de artigos evidencia que partes da cognição já foram afetadas de forma negativa ; não pela tecnologia, mas pelo uso que se faz dela.
Se os mecanismos de busca são uma ajuda valiosa e indispensável em um mundo cada vez mais veloz, recorrer ao Google como se ele fosse uma extensão natural da memória está provocando efeitos adversos na organização cerebral. Em 2011, foi publicado o primeiro estudo associando os mecanismos de busca a alterações no sistema de armazenamento de informações. Na pesquisa pioneira, divulgada na revista Science, pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, demonstraram que a ;cola; do indexador não é armazenada pelo cérebro. Na mesma velocidade que surge, a informação se esvai da mente. ;Desde o advento da internet, sites de busca como o Google mudaram a forma como nosso cérebro se lembra das informações;, escreveram os autores.
Diferentemente de muitos outros órgãos, o cérebro não é estático, mas plástico. Ele se remodela, criando conexões e ativando redes de neurônios alternativas, ao sabor das situações. No caso da pesquisa de Columbia, a equipe da psicóloga Betsy Sparrow constatou que, certas de que vão encontrar o que querem na internet, as pessoas simplesmente se esquecem de informações que, de outra maneira, armazenariam na mente. O estudo envolveu estudantes da Universidade de Harvard que tinham de responder a uma bateria de questões de conhecimento geral com nível de dificuldade alto. Quando achavam que poderiam acessar esses dados sem dificuldades e sempre que quisessem, os jovens tendiam a esquecê-los mais rapidamente.
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