Ciência e Saúde

Cientistas combatem depressão com estímulo de luz no cérebro

O experimento atinge a área do órgão que guarda as memórias positivas e conseguem eliminar comportamentos depressivos em ratos. O experimento poderá ajudar no desenvolvimento de terapias para humanos

Vilhena Soares
postado em 18/06/2015 06:12


A comemoração de um aniversário e o nascimento de um filho costumam ficar guardados na memória. E não se tratam apenas de boas recordações, defendem cientistas de uma instituição norte-americana. Segundo eles, elas têm a capacidade de evitar um dos males mais comuns da atualidade: a depressão. A equipe chegou a essa conclusão após realizar um experimento em que reativou uma região do cérebro ligada a lembranças positivas de ratos, o que fez com que os pequenos animais se livrassem da tristeza por um tempo considerável. Os detalhes da pesquisa foram publicados na edição de hoje da revista Nature e podem resultar no desenvolvimento de novas terapias em humanos.

O estudo concentrou-se nas experiências que deixam marcas permanentes no tecido nervoso, chamadas de engramas cerebrais e formadas por conjuntos de neurônios que foram estimulados durante a vivência e se transformaram em traços de memória. Liderados por Susumu Tonegawa, os pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) descobriram o engrama específico dos roedores ao monitorar o acasalamento de machos e fêmeas. Depois, submeteram as cobaias a situações de estresse para induzi-las a um comportamento depressivo.

Com os animais deprimidos, a equipe reativou, por meio de impulsos luminosos, os neurônios que formavam a memória do acasalamento. ;Reativar as células do hipocampo associadas com uma lembrança positiva por meio desse tipo de estimulação ajudou a acabar com deficiências comportamentais induzidas pelo estresse;, explicam os autores, no artigo divulgado na publicação científica.

Para Daniel Schachter, neurologista do Hospital São Vicente de Paulo, do Rio de Janeiro (RJ), a pesquisa norte-americana traz dados interessantes e que merecem ser estudados profundamente. ;Essas áreas relacionadas a memórias agradáveis podem liberar substâncias que combatem a depressão, ajudando os animais a lidarem melhor com situações de estresse. É um bom trabalho, mostra que existe um princípio a ser investigado para, quem sabe, ser usado futuramente em humanos;, avalia.

Schachter explica que a área monitorada pelos cientistas era conhecida pela ligação com a memória. ;Essa região do hipocampo não é um registro fotográfico da experiência vivenciada em determinado momento, mas de como nós o captamos por meio de percepções sensoriais distintas, o que gera essa série de reações cerebrais que provocam o enfeito antiestresse;, detalha.

Outro ponto de destaque da pesquisa foi ter mostrado que é a ativação do local em que estão os traços de memória positiva no cérebro, e não a experiência propriamente dita, que dispara o efeito antidepressivo. Sérgio Tamai, presidente do Departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina (APM), acredita que isso se deva à forma como a lembrança é evocada. ;Os problemas que causam a depressão são combatidos dependendo de como se lida com eles. Esses circuitos devem agir nesse tipo de comportamento, influenciado pelas memórias positivas;, complementa.

Relações complexas
Os pesquisadores apontam ainda dois aspectos de destaque da técnica de estimulação luminosa: ela cessou o comportamento depressivo por um tempo considerável e surtiu efeito antes de medicamentos usados para tratar a doença. ;Enquanto a maioria dos tratamentos psicofarmacológicos levam semanas para conseguir resultados, outras opções alternativas, como a estimulação cerebral profunda, têm sido relatadas em diversas pesquisas com efeitos mais rápidos nos pacientes;, destacam os autores.

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