Ciência e Saúde

Proteína presente em ratos mantém células do coração mais resistentes

A descoberta feita por cientistas americanos abre campo para novas terapias contra a insuficiência cardíaca

Isabela de Oliveira
postado em 18/06/2015 06:15

Mesmo as máquinas fabricadas com os melhores materiais tendem a ruir com o tempo. Por isso, revisões e trocas de peças são medidas obrigatórias. A lógica vale também para o corpo humano, mas com uma ressalva: nem sempre é possível reparar partes fundamentais dessa engrenagem, o que impõe limites à longevidade. Ainda que o corpo trabalhe em cadeia, alguns órgãos são vitais, como o coração. Procurando maneiras de mantê-lo em funcionamento por mais tempo, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, encontraram um combustível ideal: a vinculina. A proteína confere resistência aos corações desgastados pelos anos, garantem.

A vinculina foi isolada pela primeira vez em 1979, a partir do músculo liso da moela de frangos. Responsável pela comunicação entre as células, ela ganhou o nome em referência à palavra latina vinculum, ou vínculo, em português. E é exatamente isso que faz, sugere a equipe liderada por Adam Engler: mantém as células do coração unidas, conferindo ao músculo resistência e vigor necessários para continuar batendo até mesmo em idade avançada.

A proteína estratégica, explica Engler, está presente em diferentes animais, como moscas-da-fruta, ratos e seres humanos. Estudos anteriores demonstraram que o músculo cardíaco de humanos idosos tem mais vinculina do que o dos jovens. ;No entanto, não se sabia se a quantidade diferenciada tinha quaisquer consequências, fossem elas boas, fossem más;, conta o cientista. O estudo liderado por ele e detalhado na edição de hoje da revista Science Translational Medicine fornece uma resposta à questão.

Os resultados da pesquisa mostram que o composto também se acumula no coração de macacos e ratos mais longevos, e no de algumas moscas-da-fruta em processo de envelhecimento. ;Quando houve aumento na expressão do gene que dá origem à vinculina nos insetos, eles tiveram melhor função cardíaca e viveram mais tempo;, conta Engler. Para se ter ideia, no estudo, constatou-se que a expectativa de vida das moscas que tinham quantidade elevada da proteína foi 150% maior. ;Isso sugere que mais vinculina nos ajudaria a preservar a função cardíaca à medida que envelhecemos;.

Análise aprofundada
Antes de concluir qualquer coisa, a equipe realizou uma ampla análise das proteínas dos ventrículos de macacos rhesus e ratos jovens e idosos em busca de possíveis alvos terapêuticos. Os pesquisadores observaram que os animais com mais vinculina tinham maior longevidade. Em seguida, os experimentos foram feitos com moscas-da-fruta, cujo organismos envelhece rapidamente e tem características moleculares e celulares semelhantes aos do de roedores.

Os pesquisadores visualizaram a estrutura do coração dos insetos ; alguns geneticamente selecionados para ter mais vinculina, outros não ; com ferramentas que não a danificavam e observaram novamente a correlação da proteína com o bom funcionamento cardíaco em idade avançada. A taxa elevada do composto conferiu, por exemplo, mais força aos músculos cardíacos e maior capacidade de contração.

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