Ciência e Saúde

Após nove anos de viagem, sonda espacial da Nasa chega em Plutão

Rodrigo Craveiro
postado em 15/07/2015 06:00

Imagem de Plutão feita pela New Horizons a 768 mil quilômetros do planeta-anão


Foram 3.281 dias de viagem e 4,8 bilhões de quilômetros percorridos, a uma velocidade constante de 48.280km/h. Às 7h49 de ontem (8h49 em Brasília), a sonda New Horizons rompeu os paradigmas da exploração espacial ao chegar a 12,5 mil quilômetros de Plutão ; rebaixado para planeta-anão pela União Astronômica Internacional ; e ao atingir a última fronteira desconhecida do Sistema Solar. Na sala de controle do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins da Nasa, a agência espacial americana, cientistas da missão comemoravam a façanha ao lado de Alden e Annette Tombaugh, filhos de Clyde Tombaugh, o astrônomo que descobriu Plutão em 1930. ;Eu estou muito contente com essa última realização da Nasa, a qual demonstra mais uma vez como os Estados Unidos lideram o mundo no espaço;, declarou John Holdren, diretor do Gabinete da Casa Branca para Políticas de Tecnologia e Ciência. ;É um dia de incrível orgulho. Os EUA são o único país que visitou cada um dos planetas do Sistema Solar;, celebrou Charlie Bolden, administrador da Nasa.

Às 20h55 de ontem (21h55 em Brasília), a sonda enviou nova mensagem à Terra, indicando o seu perfeito funcionamento. O contato foi recebido com uma salva de palmas na sala de controle. ;A equipe da New Horizons está orgulhosa por cumprir a primeira exploração do sistema de Plutão. Esta missão tem inspirado povos ao redor do mundo com a emoção da exploração e com o que a humanidade pode alcançar;, celebrou Alan Stern, investigador principal da missão e professor do Southwest Research Institute (SwRI) em Boulder, no Colorado. Cerca de 16 horas antes do sobrevoo, a sonda fez a imagem mais detalhada do planeta-anão, enquanto estava a 768 mil quilômetros de Plutão ; ela mostra que, ao contrário do que se pensava, a superfície é viva e dinâmica. De a cordo com Stern, as imagens exibem ;vários tipos de brilho, regiões bastante escuras perto do equador e muito brilhantes no norte e numa zona intermediária sobre o polo;. ;Plutão tem fortes ciclos atmosféricos. Neva na superfície;, contou. Fotos do registro do ;encontro; entre a New Horizons e Plutão serão divulgadas hoje.

;A viagem até Plutão é a essência da exploração espacial. Descobrir o que está no horizonte é um desejo bastante humano. Transformar um ponto branco sobre uma placa fotográfica da década de 1930 em um planeta real, o qual podemos sobrevoar, é um feito extraordinário;, disse ao Correio Matthew E. Hill, coinvestigador da missão New Horizons e cientista-chefe do Espectrômetro de Partículas energéticas de Plutão (Pepsii). Segundo ele, o Pepsii é um instrumento voltado à detecção de partículas energéticas carregadas. ;Nós presenciamos nitrogênio molecular saindo da atmosfera de Plutão. Quando moléculas neutras escapam, elas interagem com fótons do Sol e se tornam ionizadas. Então, são ;apanhadas; pelo vento solar e varridas em direção a Plutão, a 800km/s. Nesse momento, podemos detectá-las com o Pepsii;, explica o especialista. Hill crê que essas moléculas podem explicar a atmosfera de Plutão, o processo de escape de nitrogênio e o modo com que os ;íons apanhados; se movem pelo meio interplanetário. Os primeiros dados coletados atestam que Plutão tem um diâmetro de 2.370km, na faixa das estimativas anteriores, que apontavam entre 2.888 e 2.384km.

Ineditismo
Para Henry Throop, membro da missão New Horizons e cientista do Planetary Science Institute (em Tucson, Arizona), a importância do sobrevoo em Plutão está no fato de a sonda ser a primeira a visitar o último planeta inexplorado do Sistema Solar. ;Nós entendemos bem Marte, vimos os anéis de Saturno de perto e exploramos mundos fascinantes, como as luas Titã e Europa. No entanto, Plutão é mais distante, mais frio e menor do que qualquer um deles. Sua história é completamente diferente do que qualquer coisa que já vimos de perto;, explicou ao Correio, por e-mail. Throop espera que Plutão ajude a ciência a compreender o Sistema Solar. ;De algum modo, Plutão compartilha muita coisa em comum com milhares de corpos no cinturão de Kuiper ; em efeito, é um ;terceiro tipo de planeta;, um complemento aos planetas rochosos e aos gigantes gasosos. Ao visitá-lo, esperamos ser capazes de aprender muito sobre essa região do Sistema Solar e sobre o vasto conjunto de corpos situados ali. Entender sua história, sua composição, os processos físicos sobre a superfície, e assim por diante;, acrescenta.

Os dados obtidos pela New Horizons envolvem imagens similares às de uma câmera digital e medições diversas. ;Vamos estudá-las para aprender sobre a história de Plutão, sua superfície, suas luas e sua atmosfera. Outras informações nos dirão sobre a composição química, oferecendo um entendimento amplo do sistema de Plutão;, comentou. Throop lembra que a anomalia de 4 de julho foi ;de levantar os cabelos;. ;Ficamos preocupados ao perdermos o contato com a sonda. Tudo saiu bem, graças ao duro trabalho da equipe. Também houve um risco possível, devido à poeira no sistema plutoniano. Um golpe de uma única partícula de poeira menor que 1mm seria o bastante para incapacitar a espaçonave;, observa. Integrante da missão e cientista do Lunar and Planetary Institute (em Houston, Texas), Paul Schenk disse ao Correio que a New Horizons está processando uma rica amostra de dados sobre imagens, espectroscopia e partículas. ;Eles nos contarão sobre o exótico gelo da superfície e sobre como se desenvolveu ali. Devem apontar onde estão distribuídos o nitrogênio, o metano e o monóxido de carbono. E ajudarão a entender com o Sistema Solar se formou;, concluiu.

O descobridor ;vai; à descoberta
Quando a sonda New Horizons realizou o sobrevoo histórico, ontem, foi como se colocasse o ;pai de Plutão; diante do filho. Dentro de um pequeno recipiente de alumínio instalado no deque superior da espaçonave, estão as cinzas de Clyde W. Tombaugh, o astrônomo norte-americano que descobriu Plutão em 1930. Doados pela família de Tombaugh, os restos mortais também serão enviados por sobre os objetos do Cinturão de Kuiper dentro de alguns anos. ;Aqui dentro estão os restos do americano Clyde W. Tombaugh, descobridor de Plutão e da ;terceira zona; do Sistema Solar. Garoto de Adelle e de Muron, marido de Patricia, pai de Annette e Alden, astrônomo, professor, aquele que brincava com as palavras e amigo: Clyde W. Tombaugh (1906-1997);, afirma uma inscrição no recipiente.

Cumprimentos de um gênio

Por meio de vídeo publicado no Facebook, o físico britânico Stephen Hawking (foto) cumprimentou a equipe da missão New Horizons e admitiu que o sobrevoo em Plutão pode representar um salto gigantesco no estudo da origem do cosmo. ;Agora, o Sistema Solar estará ainda mais aberto a nós, revelando os segredos do distante Plutão. As revelações da New Horizons podem nos ajudar a entender melhor como o nosso Sistema Solar se formou. (;) Nós exploramos porque somos humanos, e queremos conhecer. Eu espero que Plutão nos ajude nessa jornada. Eu estarei acompanhando de perto, e espero que vocês também;, disse Hawking, portador de esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique .

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação