Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Fóssil de cobra de 4 patas pode ter sido tirado ilegalmente do país

Trata-se de um fóssil excepcionalmente bem preservado e potencialmente revolucionário para o estudo da evolução de cobras e lagartos



[SAIBAMAIS]"Os paleontólogos brasileiros podem acreditar no que eles quiserem", desafia o britânico. "Não há nenhuma etiqueta no fóssil dizendo quando ou como ele foi coletado. Ele só foi reconhecido como sendo do Brasil porque eu sou um especialista na formação Crato." Elo perdido?. Hussam Zaher, pesquisador do Museu de Zoologia da USP, questiona o estudo também do ponto de vista científico. A análise que os autores fazem do fóssil, segundo ele, é "furada".

"Não há nenhuma evidência irrefutável de que esse bicho seja uma cobra", afirma Zaher, que ajudou a descrever duas espécies de cobras com patas e tem vários de seus trabalhos citados no artigo de Martill. "Está muito mais para lagarto do que cobra", diz.

"Bem, é meio que uma cobra-lagarto, porque tem patas. Mas é mais cobra do que lagarto", rebate Martill. Na interpretação dos autores, trata-se de uma forma intermediária ("elo perdido") entre lagartos e cobras, com características dos dois grupos. O animal tinha cerca de 20 centímetros e a espécie foi batizada de Tetrapodophis amplectus. Não é a primeira vez que se encontra uma cobra com patas, mas todas as espécies descobertas até agora tinham apenas duas patas (traseiras), nunca quatro.

Se a interpretação dos autores estiver correta, o Tetrapodophis é mesmo uma descoberta espantosa, que pode revelar muitos detalhes sobre a evolução das cobras. A teoria predominante é que as serpentes evoluíram de uma linhagem de lagartos que foram reduzindo suas patas gradativamente, até perdê-las por completo (ao longo de muitas gerações). Há dúvidas, porém, se essa transição ocorreu no ambiente marinho ou no meio terrestre. Se o Tetrapodophis é mesmo uma cobra primitiva, suas características anatômicas sugerem que a transformação ocorreu em terra.

Além de Martill, assinam o trabalho Nicholas Longrich, da Universidade de Bath, também na Inglaterra, e o alemão Helmut Tischlinger, sem filiação acadêmica. Longrich disse ao Estado que, se dependesse dele, o fóssil seria devolvido para o Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.