Ciência e Saúde

Técnica de fertilização in vitro completa neste sábado 37 anos

O primeiro bebê de proveta do mundo foi Louise Brown

postado em 25/07/2015 12:02
O primeiro bebê de proveta do mundo foi Louise Brown
Há 37 anos nascia na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo. Louise foi a primeira de mais de 6 milhões de crianças que nasceram com a ajuda da fertilização in vitro. A técnica consiste em retirar o óvulo da mulher, coletar o sêmen do homem e criar um embrião em laboratório para ser implantado no útero.

Em entrevista à Agência Brasil, o médico especialista em reprodução humana e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, João Sabino, explicou que a técnica surgiu para ajudar casais com dificuldade para engravidar, mas hoje vai além. Pode ser usada, por exemplo, por casais que têm algum problema genético e querem ter um filho saudável. ;Eles podem usar a fertilização para fazer uma investigação genética nos embriões antes da transferência para o útero.;

O procedimento também pode ajudar mulheres que querem ter filhos mais tarde. ;Por exemplo em uma mulher que tem câncer e vai fazer quimioterapia. Ela pode congelar os óvulos e fazer uma fertilização mais tarde.;

João Sabino conta que desde o primeiro procedimento, em 1978, a técnica avançou muito. Ele atua na área há 24 anos e constata que o controle de qualidade e os laboratórios evoluíram, assim como as técnicas de indução da ovulação. ;Na época em que a técnica surgiu, só 5% a 10% das pacientes engravidavam. Hoje a taxa de sucesso é até 50%;.

O médico aponta as três principais causas da infertilidade, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a ausência de gravidez após 12 meses de relações sexuais regulares sem proteção. ;Em 1/3 dos casos o problema é masculino, é importante investigar o homem para checar a quantidade e a qualidade dos espermatozóides. Nas mulheres, os principais problemas são alterações nas trompas e endometriose, que altera a anatomia da pélvis;, afirma.

Segundo a OMS, a infertilidade atinge de 8% a 15% dos casais em idade fértil.

Acesso ao tratamento

A Rede Latino Americana de Reprodução Assistida estima que entre 1990 e 2012, 56.674 bebês brasileiros vieram ao mundo com o uso da técnica. Em 2014, segundo o 8; Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram feitos 27.781 ciclos de fertilização in vitro no país.

O especialista João Sabino avalia que o número está abaixo do necessário para atender a demanda nacional. ;O tratamento é muito caro para famílias de baixa renda. Custa entre R$ 5 mil e R$ 20 mil, dependendo do caso. Hoje, 90% das fertilizações são feitas em clínicas privadas;, lamenta.

Um dos principais centros públicos de reprodução assistida do país fica no Distrito Federal. Mais de 500 crianças nasceram no local desde 1998, quando foi criado. ;Já fizemos mais de 3 mil ciclos e ainda temos 2 mil casais na fila;, conta a coordenadora do programa de Reprodução Humana do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), Rusaly Rulli Costa. Segundo ela, apesar de a demanda ser grande, o Brasil oferece o tratamento totalmente gratuito em poucos locais.

Rusaly avalia que o serviço público, de um modo geral, ainda vê a fertilização in vitro como coisa para ricos. ;E não é. Não é justo que parte da população seja privada de planejar seus filhos, pois até na Constituição está previsto o direito de planejar a família;, avalia, lembrando que o tratamento não consta na tabela de procedimentos cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). ;Cabe às secretarias de saúde estaduais decidir se vão oferecer o serviço, a ser financiado pelos estados.;

O centro do HMIB atende em média 300 casais por ano. ;Mas no primeiro semestre deste ano só chamamos 120 casais, não é fácil conseguir os recursos;.

O médico João Sabino explica que, do ponto de vista físico, o tratamento não dói. ;Mas do ponto de vista emocional, machuca muito. Existe uma dor psicológica forte ao longo do processo, o casal precisa ter o acompanhamento de uma equipe médica bem preparada.;

Rusaly Rulli Costa concorda que o tratamento gera ansiedade e pode causar frustração, pois mexe com os sonhos e desejos mais íntimos das pessoas. ;A gente prima pelo acolhimento, com uma equipe multidisciplinar. Somos considerados classe AA no atendimento, pois o processo é extremamente desgastante para os casais que nos procuram.;

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