Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pesquisadores trabalham em imunização contra todas as cepas do influenza

O foco dos cientistas é a imutável estrutura usada pelo vírus para invadir as células humanas

Uma nova estratégia de imunização possibilitou a criação de vacina capaz de proteger contra várias linhagens do vírus da gripe. A técnica consiste em combater uma estrutura que é similar em todas as cepas do influenza e que permanece a mesma apesar das constantes mutações adquiridas pelo micro-organismo. O método foi testado por dois grupos de cientistas, que conseguiram imunizar animais contra diferentes cepas do influenza. Atualmente, não há intervenções licenciadas que fornecem esse tipo de proteção. Os resultados, divulgados nesta semana na revista Science e na Nature Medicine, podem ser o primeiro passo para o desenvolvimento de um composto protetor universal e o fim das campanhas de imunização pontuais.

Um dos grandes desafios no combate à gripe é a grande variedade de cepas do patógeno causador dela. As versões atacam em épocas diferentes do ano e, eventualmente, sofrem mutações, dando origem a novas linhagens. Isso obriga os profissionais de saúde e os cientistas a manterem constante vigilância, desenvolvendo e designando novos tipos de vacinas de acordo com o tipo de doença em voga.

Felizmente, as diferentes linhagens do vírus compartilham um ponto fraco em comum: a haste que serve como suporte para a hemaglutinina, estrutura usada pelo patógeno para invadir a célula hospedeira. A glicoproteína é a parte que realmente entra em contato com a célula durante a infecção. Normalmente, é ela que o organismo aprende a combater quando atacado pelo micro-organismo da gripe. Como cada cepa do vírus usa um tipo de hemaglutinina, o sistema de defesa acaba sendo surpreendido sempre que é acionado por uma nova linhagem. Mas, ao aprender a atacar a base dessa estrutura, a célula pode adquirir uma estratégia de defesa que sirva contra todas as armas que compõem o arsenal do influenza.

Os pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas da agência governamental de saúde norte-americana, a NIH, recriaram a haste da hemaglutinina da gripe A, como é conhecido o vírus H1N1, e usaram a estrutura para desenvolver uma vacina. A substância foi usada para inocular ratos e ferrets, que, depois, receberam uma dose mortal do vírus H5N1, o da gripe aviária. Todos os roedores vacinados sobreviveram ao influenza, enquanto todos os bichos que não receberam a imunização morreram depois de serem infectados.

O resultado, no entanto, foi um pouco menos animador com os ferrets, considerados o melhor modelo animal para prever a resposta humana a infecções. Apenas quatro de seis bichos sobreviveram ao H5N1 depois de serem vacinados. Os pesquisadores explicam que os anticorpos produzidos a partir da inoculação não foram capazes de neutralizar completamente a gripe aviária, mas que a defesa era forte o suficiente para combater diferentes formas da doença.

Para comprovar a eficácia da proteção conferida pela vacina, os cientistas injetaram somente os anticorpos produzidos pelo organismo de ratos imunizados em outros roedores que não receberam a vacina e infectaram os bichos. A maioria dos animais sobreviveu à dose letal do vírus, confirmando que a defesa adquirida a partir da inoculação tem uma eficiência notável contra o influenza.

Aperfeiçoamento
Os cientistas ainda não sabem afirmar se a vacina produzida a partir da haste da hemaglutinina também pode combater outras linhagens do vírus. Afirmam que é necessário aperfeiçoar o método e realizar novos experimentos em animais antes de se considerar estudos clínicos em humanos. No entanto, como a sazonalidade das linhagens do vírus é imprevisível, ainda não se pode determinar quanto tempo levaria até que a iniciativa resultasse em uma vacina real.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique .