Ciência e Saúde

Brasil e Alemanha inauguram torre de 100 andares para estudar Amazônia

Brasil e Alemanha inauguram observatório que analisará a interação da floresta com o resto do planeta nas próximas décadas

postado em 25/08/2015 06:11

O Observatório de Torre Alta da Amazônia: munida de instrumentos científicos, a estrutura de 325m ajudará cientistas a compreenderem o processo de aquecimento global

Ela é quase da mesma altura da Torre Eiffel, tem 1m a menos apenas ; e também serve para observar. Seu topo, no entanto, não é destinado a turistas fascinados pela capital francesa, mas para instrumentos científicos que servem para monitorar a maior floresta tropical do mundo. A estrutura metálica que nasce em meio às árvores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a cerca de 350km de Manaus, é a estrela do Observatório de Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), projeto científico coordenado em parceria pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o centro Max Planck, da Alemanha.

A função da obra, que alcança 325m (o equivalente a pouco mais de 100 andares), é ser um laboratório para estudar a relação entre a floresta e as mudanças climáticas em curso no planeta. Para chegar até a torre, é preciso precorrer estradas de terra e fazer parte da viagem por rio. Ali, não há barulho de civilização, só da mata e dos animais que a habitam. Sinal de celular ou internet, nem pensar. ;O fato de estar distante das cidades e, portanto, da influência humana, garante a coleta de dados relativamente não adulterados;, explicou Meinrat Andreae, diretor do Instituto Max Planck.

Com 3 mil quilômetros de extensão de leste a oeste, a Floresta Amazônica tem o poder de impactar o mundo todo. Processos climáticos e atmosféricos que ocorrem ali podem ser sentidos em outras regiões do planeta. ;Com essa torre, vamos entender melhor qual é o efeito da Amazônia, não só no clima local, mas também no global;, declarou à agência France-Presse Antonio Ocimar Manzi, coordenador do projeto do lado brasileiro.

A inauguração da obra ocorreu no sábado passado, mas, por enquanto, apenas alguns testes pilotos estão sendo realizados. Até 2017, serão instalados todos os instrumentos de análise, que incluem sensores e radares a laser em diferentes alturas para medições do solo (quantidade de água, temperatura e umidade), do ar acima e abaixo da copa das árvores. Também será avaliado constantemente o fluxo de vapor d;água e de aerossóis (partículas sólidas e líquidas em suspensão) importantes para a formação de nuvens. Estão previstas três décadas de análise. Uma das perguntas a serem respondidas é o que a Amazônia está fazendo com o excesso de CO2 que começou a ser produzido a partir da segunda metade do século 20 ; quando a quantidade de gás emitida aumentou 1,5 vez.

Presente à cerimônia de inauguração, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, afirmou que o projeto é uma grande conquista para a ciência mundial. ;Os trabalhos desenvolvidos aqui serão para preservar a vida no planeta e dar alternativas para o desenvolvimento sustentável da humanidade. Somos muito gratos aos nossos amigos pesquisadores da Alemanha, do Inpa e aos profissionais que ajudarão a construir essa torre na maior floresta tropical contínua do mundo;, disse.

Maior alcance

Esse fenômeno vinha sendo investigado com a ajuda de duas torres também localizadas em Uatumã, de 50m e 80m, capazes de analisar a interação da mata e da atmosfera em um raio de 10m. Com a ATTO, esse raio aumentará para 1.000m. ;Um estudo de longo prazo, de duas ou três décadas, determinará quais serão os efeitos que as mudanças climáticas vão ter sobre esses ecossistemas aqui;, esclareceu Antonio Manzi.

O projeto é inspirado no Observatório de Zotino, instalado em 2003, na Sibéria, para estudar as concentrações de carbono, metano e outros gases do efeito estufa na taiga (floresta boreal). ;Estávamos debatendo em nosso instituto (Max Planck) e Andreae disse que seria perfeito ter algo como a torre siberiana na Região Amazônica. Eu disse a ele: ;Excelente, mas quem vai pagar por isso?;;, contou Jurgen Kesselmeier, que acabou se tornando o coordenador alemão da inciativa.

O ATTO custou R$ 26 milhões e foi financiado em partes iguais pelos governos de Brasil e Alemanha. Toda a estrutura foi construída no Paraná por uma empresa brasileira que venceu a licitação, e o transporte das 15.000 peças que a compõem levou 15 dias. A torre pesa 142 toneladas e é sustentada por longos cabos de aço que também lhe dão estabilidade.

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