postado em 13/10/2015 08:29
Belo Horizonte ; Há 37 anos, o terapeuta ocupacional Ronaldo Guilherme Vitelli Viana, 56 anos, começou a lidar com gente que batalhava contra o álcool e outras drogas. Ao longo dessa trajetória, ajudou a recolocar nos trilhos a vida de um número incalculável de dependentes. No momento em que estava chegando ao auge da carreira, Ronaldo dava palestras semanais para 1.500 pessoas e havia publicado um livro sobre o tema. O que seus pacientes nem sequer desconfiavam é que, quando ele encerrava as portas da comunidade terapêutica Terra da Sobriedade, na capital mineira, se entregava à bebida alcoólica. Chegou a consumir 1,5 litro de cachaça por semana, além de muita cerveja associada a destilados. Naquela época, tomar duas latas de cerveja diariamente e alguns porres nos fins de semana era normal.Para se recuperar da ressaca e dar conta do trabalho, Viana não atendia nas segundas-feiras pela manhã. E nas tardes de sexta, por causa da ansiedade pela farra dos fins de semana, também não. Apesar disso, nunca havia passado por sua cabeça que, como os pacientes que atendia, também fosse dependente químico. Até que, há 25 anos, decidiu parar de beber. Em um primeiro momento, como uma espécie de ;experiência;. ;Pensei em me abster do álcool durante um ano como forma de estudar que tipo de sensações e sentimentos acometiam meus pacientes alcoólicos ao conviver com pessoas que bebiam em festas, comemorações e eventos onde era inevitável comparecer;, conta.
Aos poucos, Ronaldo foi percebendo que estava dominado pelo vício. ;O transtorno decorrente do uso do álcool é puro sofrimento mental, é dor, muita dor;, conta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar o alcoolismo uma doença e a recomendar que as autoridades encarassem o assunto como questão de saúde pública em 1967. Segundo o psiquiatra Sérgio Nicastri, do Hospital Israelita Albert Einstein, quase meio século depois, a questão continua a ser um dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. A estimativa da agência de saúde das Nações Unidas é de que o alcoolismo mate 3,3 milhões de pessoas por ano no planeta.
O fato de o consumo dele estar atrelado a situações corriqueiras, como a comemoração de um aniversário ou de um emprego novo, torna o combate muito difícil. ;Tecnicamente falando, o álcool é uma droga capaz de modificar o funcionamento do organismo, inclusive o do cérebro. Fazendo uso dele, algumas pessoas vão perder o controle, desenvolvendo o consumo exagerado e tóxico, o que vai se refletir negativamente na vida social, com a família ou amigos. Isso vale para o álcool e para todas as outras substâncias capazes de mudar o comportamento. Trata-se de uma condição patológica marcada por tirar a liberdade do indivíduo de optar pelo consumo ou não dessas substâncias;, alerta o Sérgio Nicastri.
Conforme o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), entre os brasileiros que ingerem álcool, o ato de beber em binge ; quatro doses para mulheres e cinco para homens em um período de duas horas, considerado um padrão nocivo de consumo ; aumentou 31% entre 2006 e 2012. A proporção dos que bebem uma vez por semana ou mais cresceu 20% no mesmo período. Entre os bebedores, 17% apresentam critérios para abuso ou dependência de álcool.
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