Isabela de Oliveira
postado em 18/10/2015 08:01
A existência de um Jardim do Éden não é absurda quando encarada com olhar menos literal do que o dos livros sagrados: a natureza, em sua diversidade, proveu recursos indispensáveis para a evolução dos ancestrais humanos, que encontraram nas plantas não apenas uma importante fonte de alimento, mas, também, de cura. Inferir como isso aconteceu é um desafio para paleoantropólogos que buscam e interpretam indícios milenares e pouco óbvios de tradições extintas. Em publicações recentes, cientistas descrevem evidências de como, na pré-história, o conhecimento medicinal se confundia com os padrões de alimentação, o que levanta uma questão muito difícil de responder, mas igualmente fascinante: nossos ancestrais praticavam uma forma inicial de medicina de maneira consciente ou os tratamentos eram simples benefícios indiretos da uma dieta diversificada?
A alimentação é um dos aspectos mais fundamentais para a compreensão da ecologia e do comportamento animal, inclusive humano. A disponibilidade de recursos influencia, por exemplo, o padrão de interação social, organização do tempo, locomoção e risco de predação, além da organização e do tamanho de um grupo. Por isso, a dieta de populações antigas é vastamente estudada, o que tem gerado um conjunto significativo de evidências que permitem imaginar a existência de uma medicina pré-histórica.
Em 2012, cientistas da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) e da Universidade de York (Inglaterra) encontraram restos de vegetais preservados no tártaro mineralizado na dentição de neandertais (espécie do gênero Homo que chegou a conviver com o homem moderno). A análise revelou que esses humanos extintos consumiam não só plantas cozidas, como também ingeriam espécies que hoje são conhecidas por suas propriedades medicinais.
Contestação
O estudo, publicado na revista especializada Naturwissenschaften, tornou-se um conhecido exemplo dos indícios de uma medicina pré-histórica. O tema, contudo, é polêmico, tanto que, agora, a existência de práticas médicas tão antigas é contestada em um artigo no Journal of Archaeological Science: Reports. No trabalho mais recente, especialistas do Museu de História Natural do Reino Unido mostram que os membros de culturas ; inclusive algumas extintas ; nas quais se consome o quimo (conteúdo presente no estômago e nos intestinos de animais herbívoros), ingerem, por tabela, vegetais que não fazem parte de suas dietas.
;Se você come o que estava dentro da barriga de um herbívoro, acaba ingerindo os vegetais que ele comeu. Esse é o xis da questão desse novo artigo: às vezes, essas coisas estranhas (achadas nos dentes dos neandertais) estavam no quimo da caça, não eram consumidas intencionalmente;, explica André Strauss, pesquisador do Departamento de Evolução Humana do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, na Alemanha, que não participou da pesquisa. Laura Buck, principal autora do estudo recente, concorda: ;É necessário cautela na interpretação de tais vestígios no registro fóssil;, diz.
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