Os impactos das mudanças climáticas já são sentidos na pele e no bolso. Ondas de calor extremo ameaçam a saúde humana, afastam trabalhadores de seus postos e implicam mais gastos previdenciários e hospitalares. Nos campos, há perda de safras, afetando ainda mais a economia. Até agora, a literatura científica tem apontado que países naturalmente quentes e em desenvolvimento serão os mais atingidos, caso não sejam tomadas medidas drásticas para conter a emissão de gases de efeito estufa. Uma meta-análise conduzida pela Universidade de Stanford, na Califórnia, mostra, contudo, que a queda na eficiência será um problema de todos. Nem as nações mais frias e ricas escaparão dos efeitos do aumento da temperatura. Até o fim do século, a estimativa é uma redução de 25% da produtividade global.
Em um artigo publicado na edição de hoje da revista Nature, Marshall Burke, especialista em impactos das mudanças climáticas sobre a segurança alimentar, mostra que, por volta de 2100, com um mundo 4,3;C mais quente, 77% de todos os países ficarão mais pobres que agora. Para chegar a essa conclusão, Burke teve de conectar estimativas sobre os custos das mudanças na temperatura e em outras variáveis climáticas nos níveis micro e macroeconômico. De acordo com ele, um problema nos estudos sobre a influência do clima na produtividade é que, até agora, eles mostram resultados discrepantes dependendo da dimensão analisada.
;Temos um corpo crescente de estudos mostrando que, em todos os países, a resposta à temperatura alta é negativa, quando se consideram alguns setores, em separado. Por exemplo: quando a temperatura fica entre 0;C e 25;C, a produtividade agrícola mantém-se estável, caindo quando está mais frio ou mais quente que isso;, disse Burke, em uma entrevista à Nature. Tord Kjellstrom, professor do Instituto de Saúde Global do University College de Londres, que não participou do estudo, conta que diversos trabalhos mostram que, no calor extremo, a performance econômica e o desenvolvimento sustentável ficam comprometidos. ;Em temperaturas acima de 30;C, 40;C, dependendo do nível de umidade, a capacidade produtiva em horas cai. Em lugares como a Austrália, o sul da Europa, o sul dos Estados Unidos e nos países tropicais e subtropicais, observa-se uma redução na capacidade laboral durante o verão;, diz.
Um problema encontrado por Marshall Burke, contudo, foi que, nos estudos que ele avaliou, tudo isso era verdade até que se tentava investigar o impacto do clima em todos os setores produtivos, para se obter um cenário macroeconômico. Nesses casos, a relação entre mudanças climáticas e perdas financeiras parecia mais frágil e, em alguns casos, sequer era confirmada. O especialista de Stanford, então, coletou dados econômicos de 166 países entre 1960 e 2010 e desenvolveu um modelo estatístico para combiná-los a informações sobre o clima. Em vez de comparar uma nação à outra, ele optou por analisar a produtividade de cada país, ano a ano, verificando como se comportou em todos os setores econômicos de acordo com o que os termômetros marcaram.
Encolhimento
O resultado foi que, independentemente de localização geográfica e renda, todos os países mostraram o mesmo padrão: inicialmente, a produtividade econômica cresce, à medida que aumenta a temperatura anual média. Contudo, há um limite. Enquanto o pico produtivo observado no período analisado foi aos 13;C, acima disso, ele começa a decair. Isso tanto para o setor agrícola quanto para o industrial, o que permitiu aos pesquisadores obter um cenário macroeconômico.
De acordo com Thomas Sterner, professor do Departamento de Economia da Universidade de Gothenburg (Suécia), isso não significa que países com temperaturas anuais acima de 13;C sejam menos produtivos. ;China e Estados Unidos, que são as maiores economias do mundo, são países muito mais quentes que as nações do norte da Europa, por exemplo;, observa. Ele destaca que se trata de uma média e que o importante não é o número, mas a constatação de que, independentemente do lugar no globo, o aumento da temperatura é acompanhado por perdas econômicas.
A análise de Burke não parou por aí. O pesquisador de Stanford aplicou os resultados a modelos de previsão das mudanças climáticas futuras, estimadas por diversas instituições, incluindo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC). Foi assim que chegou à conclusão de que, caso nada seja feito para alterar o padrão de aquecimento do planeta, até 2100, todas as economias do planeta vão amargar um encolhimento de até 25%.
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