A sonda Rosetta detectou oxigênio na nuvem de gás que cerca o cometa 67P/Churyumov;Gerasimenko. A novidade, anunciada em artigo publicado na revista Nature, pode mudar o modelo químico que os cientistas usam para descrever a formação do Sistema Solar. Essa é a primeira vez que o elemento considerado essencial para a vida é encontrado em sua forma molecular na coma, ou cauda, de um cometa, na verdade um fluxo de gás e poeira liberado por esse tipo de objeto. Até então, acreditava-se que o oxigênio só seria liberado por essas rochas geladas na forma de compostos mais complexos, como água, monóxido de carbono ou dióxido de carbono.
O elemento foi registrado em setembro do ano passado, com a ajuda do espectrômetro de massa presente em Rosetta, ROSINA-DFMS. Para se certificar de que o dado não era resultado de alguma anomalia, a equipe de pesquisadores continuou acompanhando a concentração de oxigênio no 67P até março deste ano. As medições revelaram que a proporção do gás se manteve constante durante todo esse tempo, e que o gás, na verdade, é o elemento mais comum na atmosfera do objeto espacial depois da água, do monóxido de carbono e do dióxido de carbono.
A cauda de um cometa é formada pelo material que ele perde durante sua jornada pelo espaço. No caso do 67P. a aproximação do Sol faz com que ele libera esses componentes ; estima-se que a cada passagem pela estrela, o cometa perca cerca de 10m de circunferência. Como a proporção de oxigênio medida pela sonda se manteve constante por meses, isso significa que o gás está presente até mesmo nas camadas mais internas. Se o elemento estivesse apenas na superfície exterior da rocha, ele teria se perdido rapidamente e sumido dos sensores.
Durante o tempo em que Rosetta acompanhou o 67P, foi confirmado que a concentração de oxigênio é maior perto do seu núcleo e se dissipa ao longo da cauda, indicando que o material é constantemente liberado pelo cometa. Os pesquisadores acreditam que isso é um sinal de que o oxigênio molecular estava presente durante o surgimento do objeto, um fato que desafia o modelo conhecido de formação do Sistema Solar. Como se trata de um elemento muito reativo, era esperado que ele tivesse se unido ao hidrogênio, abundante quando os cometas foram formados, e dado origem à água.
;Todos os nossos modelos dizem que ele não deveria estar ali, que não deveria ter durado tanto tempo. Então, isso nos diz algo sobre o processo de formação do Sistema Solar, que deve ter sido muito delicado, pois esse gelo nunca foi aquecido, nunca foi processado. Parece ser um material muito intocado;, ressalta o principal autor do artigo, André Bieler, pesquisador da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
A descoberta implica que pelo menos parte do oxigênio presente no cometa seja mais antiga que o próprio Sistema Solar e tenha se originado em uma nebulosa escura, de onde o Sol e seus planetas teriam se formado. ;Há um argumento sólido na comunidade científica de que os cometas são os corpos menos alterados do Sistema Solar. E, agora, temos evidência de, ao menos, grande parte disso;, ressalta Bieler.
Primordial
O resultado inesperada vai mudar completamente a forma como os astrônomos descrevem cometas. O oxigênio na sua forma molecular já havia sido detectado em outros corpos, como luas de Júpiter e Saturno. Como o 67P também é o primeiro cometa a ser visitado por uma sonda, os cientistas acreditam que outros objetos não explorados também possam ter uma composição similar. ;Se esse for o único cometa com oxigênio, seria um caso especial, com certeza. Mas acho que, provavelmente, deve ser algo comum;, acredita Kathrin Altwegg, pesquisadora da Universidade de Bern, na Suíça, e coautora do trabalho.
Duas hipóteses podem explicar a presença do oxigênio no 67P: uma delas aponta que o gás poderia ter congelado antes de reagir com o hidrogênio e acumulado nas partículas de gelo. A outra possibilidade é baseada num fenômeno conhecido como radiólise, que ocorre quando a radiação quebra as ligações que mantêm as moléculas unidas e libera seus elementos na forma mais simples.
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