Ciência e Saúde

Estudo mostra que mulheres latinas desconhecem sobre a metástase do câncer

Das brasileiras consultadas, 34% disseram não saber da versão metastática do tumor

Paloma Oliveto
postado em 01/11/2015 08:05



O fim da campanha Outubro Rosa, de conscientização sobre câncer de mama, não encerra a preocupação com ações educativas com foco na doença. Ainda que, nos últimos anos, o nível de conhecimento a respeito do tumor mais comum entre as mulheres tenha aumentado, a maioria da população está mal-informada em relação à forma metastática da enfermidade. Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada pela Harris Poll com mais de 5 mil latinas, incluindo 1.196 brasileiras.

O levantamento, encomendado pelo laboratório Pfizer, mostra que, além de pouco familiarizadas com o termo ;câncer de mama metastático;, as mulheres têm informações equivocadas sobre a doença. No Brasil, 64% das entrevistadas afirmaram que já tinham ouvido falar nesse estágio do câncer de mama, um percentual menor que o verificado no México (65%) e maior que o registrado na Argentina (55%), no Chile (55%) e na Colômbia (51%). Para 40% das brasileiras, a migração das células cancerosas mamárias para outros órgãos é uma raridade, o que não condiz com a literatura científica: três em cada 10 pacientes evoluirão para o câncer metastático, geralmente após terem se tratado do tumor primário.

O geneticista Antonio Abílio, da clínica Oncomed, no Rio de Janeiro, explica que o câncer de mama metastático surge quando algumas células do tumor original se destacam e caem na corrente linfática para se disseminar pelo corpo ou se fixar em outros órgãos. Por isso, trata-se de uma fase mais avançada do tumor primário. ;O câncer é uma doença genética no sentido de que suas causas são mutações nos genes relacionados ao crescimento e à diferenciação celulares. Quanto mais evoluído é um tumor, mais mutações ele apresenta. De maneira que, em suas fases iniciais, ele tem menos mutações, comparado às mais avançadas. O tumor metastático é, em vista disso, um tumor avançado por definição, independentemente do tamanho; detalha.

A complexidade das mutações e o comprometimento de outros órgãos fazem com que a cura de um câncer metastático seja rara, no caso específico do tumor de mama em estágio 4, algo inalcançado pelas terapias atuais. Contudo, 87% das brasileiras ouvidas na pesquisa acreditam que o câncer metastático de mama tem cura se diagnosticado precocemente. ;Tendo em vista que o câncer de mama metastático tem mais mutações genéticas que o tumor primário, muitas vezes elas (as pacientes) conferem resistência a certas quimioterapias;, observa o geneticista Antonio Abílio, da clínica Oncomed, no Rio de Janeiro, justificando a dificuldade de obter maior sucesso no tratamento da doença avançada.

Tratamento

Contudo, de acordo com a oncologista Daniela Assad, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, as entrevistadas estão certas no que diz respeito à importância da detecção precoce das metástases. Ainda que, por ora, não seja possível pensar em cura, o tratamento é mais eficaz quando se identifica mais cedo o espalhamento do tumor. ;Quanto mais precocemente é feito o diagnóstico, mesmo na doença metastática, melhores são as possibilidades de oferecer tratamentos eficazes;, destaca Assad. ;Nos dias atuais, mesmo a doença metastática tem tratamento. As mulheres nesse cenário podem viver vários anos com as terapias adequadas;, ressalta.

Para ela, é preciso que os médicos se envolvam mais no esclarecimento sobre o câncer de mama. ;Em muitas situações e em muitas partes do país, a primeira abordagem das mulheres não é feita pelo especialista, seja o mastologista, seja o oncologista;, critica. ;É importante que o médico generalista conheça as estratégias de rastreamento de câncer de mama, os principais sinais e sintomas e que ele esteja preparado para ouvir e examinar as pacientes adequadamente, sabendo que, na maior parte do Brasil, a doença é o tumor de maior incidência entre as mulheres;, afirma.

Assad avalia que iniciativas como o Outubro Rosa são muito importantes para chamar a atenção para a importância do rastreamento e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Mas também uma ótima oportunidade para que os médicos promovam a educação em saúde da mulher e mostrem os avanços na área. ;Eles têm nos permitido fazer diagnósticos mais precoces, cirurgias menos agressivas em muitos casos e tratamentos mais eficientes;, aponta. ;Esse deve ser um esforço contínuo de todos que estão envolvidos no cuidado de pacientes com câncer de mama. Mas é verdade que a população, em geral, ainda desconhece essa doença e, por isso, outros aspectos relevantes dela precisam ser abordados.;

Jovens em risco

Embora a incidência do câncer de mama seja maior entre as mulheres com mais de 50 anos, o diagnóstico tardio da doença é mais comum em pacientes com até 39. É o que indica um levantamento do A. C. Camargo Cancer Center. O centro oncológico acompanhou 5.879 pacientes durante meia década e constatou que 34,8% das que tinham até 39 anos descobriram
a doença quando ela estava nos estágios 3 e 4. Entre as voluntárias com 40 a 49 anos, a taxa caiu para 24,5%. Na faixa de 50 a 64 anos, a índice foi de 22,8%. Entre as voluntárias com mais de 65 anos, 27,9%. O caráter mais agressivo da doença quando ela acomete mulheres jovens pode ser uma das razões do fenômeno, apontam os pesquisadores.

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