Ciência e Saúde

Concentração de gases do efeito estufa atinge o índice mais alto de 2014

Como consequência, a temperatura média do planeta deve ficar, este ano, pela primeira vez, 1ºC acima dos níveis registrados antes da Revolução Industrial

postado em 10/11/2015 06:15

A três semanas da COP-21, a conferência do clima que acontecerá em Paris, estudos alarmantes reforçam a necessidade de as nações se empenharem para minimizar os efeitos do aquecimento global. Ontem, o relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada das Nações Unidas, indicou que o nível de concentração de gases do efeito estufa na atmosfera alcançou um novo recorde em 2014. Já a agência meteorológica britânica, Met Office, divulgou que, pela primeira vez, a temperatura média mundial na superfície da Terra será, este ano, 1;C superior aos níveis pré-industriais.

No domingo, um documento do Banco Mundial mostrou o preço econômico do superaquecimento: 100 milhões de pessoas poderão cair na pobreza extrema até 2030, caso medidas robustas não sejam adotadas. Os informes foram divulgados em um importante momento pré-conferência, quando 60 ministros do Meio Ambiente se reúnem na capital francesa para tentar facilitar a conclusão de um acordo. A ministra Izabella Teixeira não participa do encontro, mas, na sexta-feira, em um evento no Rio de Janeiro, destacou a necessidade de avanços. ;O debate não é mais sobre o problema, é sobre como trilhar novos caminhos;, disse.

;Estamos entrando em território desconhecido a uma velocidade aterradora;, destacou, em um comunicado, o diretor da OMM, Michel Jarraud. Na cúpula de Paris, espera-se um acordo mundial para limitar o aumento da temperatura a 2;C, comparado ao período pré-industrial. No ritmo do aquecimento, Jarraud não crê que essa meta será atingida. De acordo com ele, a cada ano, registra-se um novo recorde de concentração de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono (CO2), metano e óxido de nitrogênio. ;A cada ano, afirmamos que não resta mais tempo. Temos que atuar agora para cortar as emissões de gases do efeito estufa se quisermos ter a possibilidade de manter o aumento da temperatura em níveis administráveis;, alertou.

Os cientistas advertem que, se a tendência atual prosseguir, o aumento da temperatura global pode alcançar 4;C até 2100, o que teria efeitos devastadores para as zonas costeiras, os ecossistemas e as economias de todo o mundo. O relatório, que não mede as emissões de gases do efeito estufa e sim a concentração na atmosfera, mostra que o CO2 aumentou a 397,7 partes por milhão (ppm) na atmosfera no ano passado. De acordo com a OMM, a concentração pode superar a barreira de 400ppm em 2016.

;O gás carbônico não pode ser visto; é uma ameaça invisível, mas muito real;, destacou Jarraud. ;Isso implica temperaturas globais maiores, mais fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor, inundações e degelo, e a elevação do nível dos oceanos e de sua acidificação;, explicou. Ele lembrou que o dióxido de carbono, principal causador do aquecimento global, pode permanecer na atmosfera durante séculos e nos oceanos por ainda mais tempo. ;As emissões passadas, presentes e futuras terão um impacto acumulativo tanto no aquecimento global como na acidificação dos mares;, disse, antes de destacar que ;as leis da física não são negociáveis;.

O metano também registrou um novo recorde de concentração na atmosfera, a 1.833ppm em 2014, segundo a OMM. Quase 60% das emissões de metano são provocadas pela atividade humana, em particular a criação de gado e a exploração de combustíveis fósseis, e a concentração na atmosfera desse gás aumentou 254% em comparação ao nível pré-industrial. Já o óxido de nitrogênio, cujo impacto no clima é 300 vezes maior que o do CO2 e que contribui para a destruição da camada de ozônio, registrou 327,1ppm no ano passado, 121% a mais que no período pré-industrial. As emissões desse composto são provocadas em 40% pelo ser humano, principalmente por causa dos fertilizantes e da atividade industrial.

Marco

A consequência disso está sendo sentida na pele, lembrou ontem Stephen Belcher, do Met Office, ao anunciar que a Terra já está 1;C mais quente que na era pré-industrial. ;Está claro que a influência humana está levando o clima moderno a territórios desconhecidos;, alertou. Concretamente, o aumento da temperatura será de 1,02;C, segundo a projeção, feita com base em dados coletados entre janeiro e setembro pelo programa HadCRUT, operado conjuntamente pelo Met Office e a Unidade de Pesquisa Climática da Universidade de East Anglia.

As primeiras indicações apontam que 2016 será igualmente quente, mas isso não significa que o aumento será repetido nos anos seguintes. ;Este ano é um marco importante, mas isso não significa que a cada ano, a partir de agora, haverá um aumento de um grau ou mais acima dos níveis pré-industriais, porque as variações naturais de temperatura continuarão a influenciar;, afirmou Peter Stott, chefe de Monitoramento do Clima do órgão britânico.

Em um encontro com o presidente boliviano Evo Morales, o francês François Hollande, anfitrião da COP-21, defendeu ontem a luta contra a pobreza e a mudança climática. Em uma declaração conjunta, divulgada após o encontro no Palácio do Eliseu, Morales disse que transmitiu a Hollande as conclusões da Cúpula Mundial dos Povos sobre as mudanças climáticas, realizada em La Paz em outubro, e felicitou os esforços do presidente francês, que chamou de ;irmão;, para obter o sucesso na reunião do clima de Paris, que se inicia no próximo dia 30.

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