Agência France-Presse
postado em 07/12/2015 14:25
As emissões de CO2, principal gás causador do efeito estufa, diminuirão em 2015, pela primeira vez durante um período de forte crescimento global da economia - segundo um estudo que constitui um incentivo para manter o esforço na luta contra o aquecimento global. A inesperada observação foi anunciada momentos antes que as negociações finais sobre o clima entrassem na crucial reta final nesta segunda-feira em Paris. As emissões de dióxido de carbono (CO2), resultantes em boa medida do uso de combustíveis fósseis, haviam registrado um forte crescimento em anos anteriores, mas se estabilizaram em 2014. E em 2015 retrocederão ligeiramente em 0,6%, segundo o estudo publicado na revista Nature Climate Change.
A economia global, por sua vez, cresceu 3,4% em 2014 e estima-se que crescerá 3,1% este ano. "Diferentemente do que ocorreu em períodos anteriores sem crescimento das emissões ou com crescimento escasso, o PIB mundial cresceu substancialmente nesses dois anos", afirmaram os investigadores.
Um investimento sustentado de tendências entre crescimento do PIB mundial e emissões de CO2 é considerado um passo importante nos esforços para reorientar a economia global dos combustíveis fósseis contaminantes para fontes sem carbono como a eólica, a solar ou a hidrelétrica.
- Pico e declínio? -
O estudo, apresentado por um painel de mais de 70 cientistas que examinam os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera e suas fontes de emissão, adverte, porém, que a medição não significa necessariamente que estamos enfrentando o muito aguardado "ano de pico" a partir do qual as emissões começam a declinar.
"O tempo dirá se essa interrupção surpreendente de crescimento das emissões é transitória ou um primeiro passo para a estabilização" do mesmo, dizem os autores. "Nós ainda não podemos comemorar. Dois anos de aparente estabilização das emissões não são uma tendência", disse Martin Kaiser, chefe de políticas climáticas internacionais do Greenpeace.
O estudo diz que o uso decrescente de carvão para gerar eletricidade na China é a principal razão para o declínio. Os 195 países que negociam um acordo global sobre as alterações climáticas em Paris procuram limitar o aquecimento global a %2b2;C em relação à temperatura média da era pré-industrial. De acordo com Todd Stern, negociador-chefe dos Estados Unidos na COP21, o relatório ainda não tinha tido um impacto tangível nas negociações desta segunda-feira. "Obviamente é uma boa notícia", disse.
Medidas voluntárias adotadas ou prometidas por 185 países participantes da cúpula conseguiriam limitar o aquecimento, mas não o suficiente para blindar o planeta de eventos extremos, tais como o aumento dos níveis do mar, inundações e secas que podem desencadear migrações em massa e aumento pobreza.
- Índia, principal desafio -
Depois de crescer 7% ao ano durante a década passada, as emissões de CO2 da China aumentaram apenas 1,2% em 2014. Uma mudança na matriz energética da maior economia do mundo foi a principal causa da queda das emissões, aponta o estudo.
As necessidades energéticas da China continuaram a crescer em ritmo acelerado, mas 60% do aumento de energia veio de combustíveis não fósseis. Um quarto foi fornecido por gás, 17% vieram de petróleo e quase nenhum de carvão, a fonte mais poluente de todas.
"O mais inesperado de tudo em nossas projeções foi uma queda de 3,9% das emissões da China em 2015", em grande parte alcançada por uma menor utilização de carbono, pelo menos durante os oito primeiros meses do ano, de acordo com os pesquisadores.
As emissões provenientes da União Europeia e dos Estados Unidos caíram 2,4% e 1,4, respectivamente, na última década. O principal problema das emissões globais nas próximas décadas parece ser a Índia, disseram.
As atuais emissões indianas são comparáveis %u200B%u200Bcom as da China de 25 anos atrás. Mas seu desafio é fornecer energia para 1,3 bilhões de pessoas, das quais 300 milhões atualmente vivem sem eletricidade.
"Para que as emissões globais de CO2 atinjam seu pico rapidamente, parte das novas necessidades da Índia em matéria energética deve vir de tecnologias de baixo carbono", concluem, sendo a única opção sensata a utilização maciça de energias renováveis.
A Índia comprometeu-se - embora sujeita a uma ajuda financeira dos países em desenvolvimento - a gerar 40% de sua energia de fontes renováveis %u200B%u200Baté 2030.