Constatado um problema psiquiátrico, geralmente surge outro transtorno que intriga pacientes, familiares e, em alguns casos, até médicos. Há risco de o tratamento prescrito trazer novas complicações? Dependência química, ataques cardíacos e apatia estão entre os efeitos dos medicamentos psicotrópicos mais temidos. Segundo especialistas, a questão enfrenta uma barreira estrutural. Há necessidade de mais pesquisas voltadas para o desenvolvimento de remédios e de estratégias alternativas de terapia para quem sofre de males como ansiedade e depressão, alertam.
Pelo mundo, resultados recentes obtidos por cientistas indicam que o assunto é complexo e demanda ainda muita investigação. Pesquisadores da Universidade de Iowa (EUA) analisaram, durante seis meses, crianças com 7 a 17 anos tratadas com o antidepressivo risperidona e notaram que o medicamento interferiu no crescimento dos participantes. ;O tratamento com risperidona crônica está associado à incapacidade de acumular massa óssea em jovens;, destacaram os autores em comunicado à imprensa divulgado em julho.
Publicado em março na revista Jama Psychiatry, um estudo também norte-americano detalhou o efeito de medicamentos psiquiátricos em 91 mil veteranos com idade superior a 65 anos. Dados de pacientes que tomavam antipsicóticos para diminuir o trauma vivido durante a guerra foram comparados com os de pessoas que não ingeriam a medicação. Descobriu-se que os integrantes do primeiro grupo tinham grandes riscos de morte devido a problemas de desequilíbrio fisiológico, como pressão alta. As complicações subiam em proporção à dose de medicamento usada.
;Os danos associados com o uso dessas drogas em pacientes com demência são claros, mas os médicos continuam a prescrevê-las. Isso ocorre provavelmente porque os sintomas são muito angustiantes. Esses resultados devem aumentar ainda mais o limiar para a indicação dos remédios;, destacou Donovan Maust, psiquiatra da Universidade de Michigan e um dos autores do trabalho. Para Helen Kales, coautora do trabalho, os efeitos colaterais dos antipsicóticos reforçam a necessidade de desenvolvimento de novos medicamentos e de uma abordagem médica que coloque estratégias não farmacológicas à frente. ;Essas abordagens só terão êxito se nós, como sociedade, concordamos em pagar os fornecedores de (remédios) de primeira linha para que tenham o tempo necessário para ;fazer a coisa certa;;, defende.
A meditação é uma das atividades analisadas por cientistas e com resultados animadores contra a ansiedade e a hiperatividade. Pesquisadores da Universidade de Yale (EUA) analisaram a atividade neural em pessoas que tinham o hábito de meditar e iniciantes na atividade milenar. Nos primeiros, os estudiosos detectaram redução da atividade neural em áreas cerebrais ligadas à ansiedade, ao deficit de atenção, ao Alzheimer e à hiperatividade. O grupo avaliou que resultados sugerem o quanto os meditadores treinados podem suprimir o surgimento de ;pensamentos sobre o eu;, ligados ao desencadeamento de desordens psiquiátricas.
Outra opção de terapia é a eletroconvulsoterapia, baseada no uso de descargas elétricas no cérebro para simular uma convulsão e já usada em depressivos. A segurança e a eficiência do procedimento, porém, geram dúvidas entre os profissionais da área. Pesquisadores da Universidade da Califórnia fotografaram a cabeça de 43 pacientes antes, durante e depois de sessões e perceberam um aumento do hipocampo que provocou melhora do humor em pacientes graves.
;Nossas descobertas mostram que a estrutura do hipocampo antes da técnica pode ser um importante indicador de resultado do tratamento (;) Isto é, pacientes com volumes do hipocampo menores no início do estudo são vistos com mais chances de melhoras dos sintomas clínicos;, explicou Katherine Narr, professora de neurologia e uma das autoras do estudo divulgado em março. Segundo a cientista, em pelo menos um terço das pessoas com depressão, a medicação usualmente prescrita não funcionará suficientemente.
Homeopatia
Pedro Carneiro, psiquiatra na Prefeitura de São Paulo, acredita que a aposta em técnicas alternativas para doenças mentais pode render resultados positivos, inclusive quando combinadas com tratamentos tradicionais. ;Fui autorizado a utilizar homeopáticos no Centro de Atenção Psicossocial e vimos que os surtos psicóticos diminuíram bastante em pacientes considerados graves. Consequentemente, o número de remédios tarja preta ingeridos por eles caiu em quase 70%;, conta.
Psiquiatra e professor da Universidade de São Paulo (USP), Marcio Bernik conta que grande parte dos medicamentos disponíveis na área psiquiátrica foi descoberta por acaso. ;Os antidepressivos foram experimentados no tratamento da tuberculose. E um dos remédios usados em psicose, o antiestamínico era indicado inicialmente para tratamentos de alergia;, ilustra. ;Esses remédios que começaram a surgir nos anos 1950 ainda servem para o mesmo princípio, apenas têm menos efeitos colaterais.;
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