postado em 18/01/2016 10:27
A primeira língua aprendida por uma criança é um marco fundamental que terá efeitos por toda a vida. A afirmação é de pesquisadores canadenses que publicaram recentemente um estudo sobre o tema na revista Nature Communications. A influência do idioma nativo, ressaltam os especialistas, permanece até mesmo quando a pessoa se adapta a outra cultura e esquece as primeiras palavras usadas no país de origem. Uma exposição inicial, mesmo que breve, a uma determinada linguagem seria o suficiente para mudar a forma como o cérebro processa os sons de qualquer código verbal.
A pesquisa foi realizada com três grupos de crianças e adolescentes, com idades entre 10 e 17 anos. Os participantes tinham histórias linguísticas bastante distintas. Enquanto parte deles havia crescido em famílias francofônicas da área de Montreal, outro grupo havia nascido na China e sido levado para a região antes dos 3 anos, após serem adotados. Essas crianças haviam esquecido completamente os termos que tinham aprendido na primeira infância, diferentemente dos membros do terceiro grupo, também nascidos na Ásia, mas fluentes tanto em chinês, quanto em francês.
As crianças foram desafiadas a interpretar palavras inventadas que pareciam ter origem francesa, mas, na verdade, não guardavam qualquer significado ; entre os verbetes usados, estavam termos como ;vapagne; e ;chansette;. O experimento consistia em mencionar as palavras falsas para os voluntários enquanto eles tinham o cérebro monitorado por ressonância magnética funcional. O exame indicava quais regiões cerebrais eram ativadas quando os verbetes sem significado eram ouvidos.
Diferenças
O exame revelou que a tentativa de decifrar os termos acionava na mente das crianças canadenses o giro frontal inferior do hemisfério esquerdo e a ínsula anterior, duas regiões envolvidas no processamento de sons associados à linguagem. No entanto, para as nascidas na China, mesmo aquelas que não usavam mais o idioma materno, um conjunto extra de células neurais era ativado pelas palavras estranhas. O giro frontal médio do hemisfério direito, o córtex medial pré-frontal esquerdo e o giro superior temporal também reagiam aos sons inéditos.
Os pesquisadores acreditam que, ao serem expostas ao idioma chinês, durante os primeiros anos de vida, os cérebros das crianças asiáticas passaram por um processo de adaptação que mudou definitivamente a forma como elas processam a linguagem. Nem mesmo a mudança para a língua francesa teria sido capaz de reverter essa modelagem inicial. ;Durante o primeiro ano da vida, como um primeiro passo no desenvolvimento da linguagem, o cérebro dos bebês está muito atento para detectar e armazenar informações sobre os sons que são relevantes e importantes para a linguagem ao seu redor;, explica Lara Pierce, estudante de doutorado na Universidade McGill e principal autora do artigo.
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