O primeiro caso de transmissão local (autóctone) do zika vírus no Brasil foi confirmado em maio passado. Era o início do que, em novembro, o Ministério da Saúde reconheceria como um surto provocado pelo arbovírus até então restrito à África, à Ásia e ao Pacífico. Pelo tamanho geográfico e pelos atrativos turísticos, o país acabou se transformando em um disseminador de zika, alertam pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá. Segundo um artigo divulgado por eles, na revista The Lancet, viajantes infectados aqui introduziram a doença em pelo menos 13 nações que reúnem condições ambientais favoráveis para a proliferação do Aedes aegypti e do Aedes albopictus, os dois tipos de mosquito que perpetuam a transmissão local da doença, além da chikungunya, da dengue e da febre amarela.
;Os Jogos Olímpicos no Brasil, em agosto de 2016, aumentam a necessidade de consciência sobre esse vírus emergente;, destacaram os autores no artigo publicado. Soma-se ao quadro de preocupação a possível relação do micro-organismo com o aumento de casos de microcefalia ; a presença de RNA de zika no fluido amniótico embasa a tese. Até o último sábado, foram notificados 3.893 casos suspeitos de microcefalia no país, distribuídos em 764 cidades de 21 unidades da Federação.
Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, ressalta que de 70% a 80% dos infectados são assintomáticos, não apresentam os sintomas de zika. ;Inclusive as grávidas. A maioria delas só fica sabendo que teve a doença quando é constatada microcefalia relacionada ao vírus. Como nem todo mundo apresenta sintomas, muitas infecções passam despercebidas;, diz.
As notificadas, porém, trazem um cenário de expansão da doença que demanda cuidado. No início desta semana, a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) confirmou que a previsão dos especialistas canadenses foi, pelo menos em parte, concretizada: o zika vírus se alastrou por praticamente toda a América Latina e o Caribe, diz a entidade.
Os cientistas de Toronto criaram um modelo global de propagação de zika a partir da adaptação de outra fórmula sazonal para a dengue. Ambos incluem dados sobre condições climáticas e nichos ecológicos dos mosquitos. Com dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo, a equipe mapeou os destinos finais de viajantes internacionais que partiram de aeroportos localizados em regiões propícias à transmissão constante de zika durante o ano. As viagens ocorreram entre setembro de 2014 e agosto de 2015.
O LandScan ; conjunto de dados sobre a população global ; também foi utilizado para que os pesquisadores conseguissem estimar a quantidade de pessoas habitando regiões fora do Brasil que oferecem risco potencial para a transmissão autóctone do vírus. Segundo as estimativas, 9,9 milhões de viajantes partiram dos aeroportos brasileiros próximos a regiões com zika. Desses, 65% foram para as américas; 27%, para a Europa; e 5%, para a Ásia.
O volume de passageiros foi maior para Estados Unidos (2.767.337), Argentina (1.314.694), Chile (614.687), Itália (419.955), Portugal (411.407) e França (404.525). China e Angola receberam a maior quantidade de pessoas que voaram para a Ásia (84.332) e a África (82.838).
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