;Ele é importante em países pobres e ricos, para mães pobres e ricas. A pobre evitará que seus filhos sofram com doenças, por exemplo a pneumonia. A rica terá menos riscos de doenças para ela própria: amamentando, evita câncer de mama, ovário e ainda ganha proteção contra diabetes e obesidade. A criança fica mais inteligente. Esse é um benefício para a vida toda e que também tem efeito importante na economia global. Serão adultos mais inteligentes e escolarizados, que produzirão e desenvolverão mais economicamente;, detalha Cesar Victora. Principal autor de um dos estudos e coautor do outro, Victora é pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
As novas estimativas indicam que o aumento do aleitamento materno para níveis quase universais para lactentes e crianças pequenas poderia salvar mais de 800 mil vidas infantis anualmente, o equivalente a 13% de todas as mortes de crianças menores de 2 anos no planeta. Evitaria ainda um adicional de 20 mil óbitos por câncer de mama a cada ano. A análise dos dados de 28 revisões sistemáticas e metanálises, das quais 22 foram encomendadas especialmente para os dois estudos divulgados concomitantemente na The Lancet, indicam que a amamentação não só tem vários benefícios de saúde para crianças e mães, mas também tem efeitos dramáticos sobre a expectativa de vida.
Por exemplo, em países de alta renda, ela reduz o risco de mortes infantis súbitas em mais de um terço, enquanto em nações de baixa e média rendas, cerca de metade de todos os episódios de diarreia e um terço das infecções respiratórias poderiam ser evitados. Há também um argumento econômico forte para o investimento na promoção do aleitamento materno: perdas econômicas globais provocadas por declínios de cognição relacionados à ausência do aleitamento ficaram em torno de US$ 302 bilhões em 2012.
Os autores calcularam que o aumento das taxas de aleitamento para crianças com menos de 6 meses em 90% nos EUA, na China e no Brasil, e em 45% no Reino Unido, cortaria os custos do tratamento de doenças comuns da infância e salvaria os sistemas de saúde em pelo menos US$ 2,45 bilhões nos EUA; US$ 29,5 milhões no Reino Unido; US$ 223,6 bilhões na China e US$ 6 milhões no Brasil.
Exemplo brasileiro
O Brasil, aliás, é considerado um exemplo de sucesso pelos pesquisadores. Na década de 1970, a duração média da amamentação era de três meses. Hoje, ultrapassa um ano. ;Vários componentes contribuíram para isso, especialmente medidas tomadas pelo governo nos anos 1980 e 1970. Surgiram a legislação da licença-maternidade, a regulamentação das propagandas de leite em pó, o treinamento de profissionais de saúde que apoiam o aleitamento e a mídia divulgando os benefícios, com campanhas de atrizes dando o exemplo;, esclarece Victora. ;Além disso, nossa sociedade tolera a amamentação, que é aceita em público. Em São Paulo, existe uma lei que aplica multa a quem proibir uma mulher de amamentar em restaurantes ou shoppings, por exemplo.;
Apesar disso, há desafios. Embora o Brasil tenha aderido ao aleitamento, a adesão à amamentação exclusiva ; aquela na qual o bebê só se alimenta do leite materno até o 6 meses ; ainda é baixa. ;Mães que trabalham fora podem reservar o leite para que o filho tome durante o dia, enquanto elas estão fora. O empregador deve reservar um lugar para que ela colete o leite, com geladeira. Esse alimento é uma substância viva, na qual há presença de células-tronco e anticorpos que protegem o bebê de doenças que a mãe já teve antes. É uma vacina e não há nada melhor para a criança.;
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