Ciência e Saúde

Confirmação das teorias de Einstein inaugura nova forma de estudar o Cosmos

A primeira observação direta das ondas gravitacionais abre importantes perspectivas de pesquisa

Humberto Rezende
postado em 12/02/2016 06:10
A primeira observação direta das ondas gravitacionais abre importantes perspectivas de pesquisaHá muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, dois buracos negros se chocaram. O cataclismo provocou ondulações que viajaram por milhões de anos até alcançarem a Terra em 14 de setembro do ano passado. A chegada e, principalmente, a detecção dessas ondas eram aguardadas por físicos do mundo todo havia um século, desde que Albert Einstein propôs que a movimentação de massa produz ;ondas gravitacionais; que se deslocam pelo Universo. Cinco meses depois de analisar cuidadosamente os dados obtidos, um grupo internacional de cientistas anunciou, ontem, o feito, recebido como uma das mais importantes descobertas científicas da história e forte candidato ao Prêmio Nobel de Física.

O entusiasmo se justifica. A primeira observação direta das ondas gravitacionais não só confirma a genialidade de Albert Einstein ; mais uma vez, prova-se que as teorias do alemão estavam certas ; como também abre importantes perspectivas de pesquisa. Além de apontar telescópios para o Cosmos e estudá-lo a partir das luzes que esses instrumentos captam, os cientistas poderão interpretar o Universo por meio de efeitos da gravidade que eram até agora imperceptíveis.

;Esse passo marca o nascimento de um domínio inteiramente novo da astrofísica, comparável ao momento em que Galileu apontou pela primeira vez seu telescópio para o céu;, afirmou France Cordova, diretora da Fundação Nacional de Ciências dos EUA (NSF, na sigla em inglês), agência financiadora do projeto responsável pela comprovação, o Laboratório Ligo (sigla em inglês para Observatório de Onda Gravitacional por Interferômetro Laser).

Distorção
O que exatamente os cientistas detectaram? Para entender isso, é preciso voltar no tempo, a 1915, quando Einstein terminava de formular a teoria da relatividade geral. Nela, entre outras coisas, o gênio propunha que a gravidade seria uma distorção provocada no espaço-tempo por objetos massivos. O espaço-tempo pode ser compreendido como uma espécie de tecido no qual todos os corpos do Universo estão dispostos, com a peculiar característica de ter quatro dimensões (as três da matéria mais o tempo).

[SAIBAMAIS]Imagine que você coloque um objeto sobre esse tecido. O resultado é uma distorção; naquele ponto, o tecido se afunda. Agora, pense que, em áreas próximas, são colocadas uma bola de boliche e uma de tênis. O objeto mais pesado cria uma depressão bem maior, capaz de fazer a bola de tênis se mover naquela direção, caindo no buraco provocado pela bola de boliche. Essa atração de um corpo menor por um maior é a gravidade, e, como mostrada nesse simples experimento, é causada pela distorção no tecido.

Ao formular essa teoria, Einstein criou, para ele mesmo, outras questões. Se a gravidade é uma distorção no espaço-tempo, o que acontece quando um objeto é movimentado intensamente? Ora, algo assim deveria provocar uma ondulação nesse tecido, respondeu o físico, como quando uma gota de água cai sobre uma lagoa. Esse efeito seriam as ondas gravitacionais, que viajariam pelo espaço (o espaço-tempo) à velocidade da luz. No entanto, corpos no espaço ficam muito longe um do outro, e por isso, acreditou o cientista alemão, não conseguiríamos sentir uma dessas ondas. Seria como esperar que a ondulação gerada por uma gota que caiu no meio do Lago Paranoá chegasse até a margem.

Nesse ponto, Einstein errou. Um século de estudos possibilitou a construção de um equipamento tão sensível que conseguiu captar uma onda gravitacional surgida a milhões de anos-luz de distância. Evidentemente, o fenômeno não foi causado pela queda de uma pequena gota, mas por algo infinitamente mais poderoso: o encontro de dois buracos negros, que produziu mais energia (em forma de onda) que toda a gerada pelas estrelas existentes no Universo observável (em forma de luz) no mesmo intervalo de tempo.

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