O sangue de um sobrevivente do surto do último surto de ebola poderá servir como fonte para uma possível vacina contra a doença. Cientistas identificaram, nesse indivíduo, mais de 300 anticorpos capazes de neutralizar o vírus, efeito que os transformam em novo alvo para o combate ao agente infeccioso. Um conjunto dessas moléculas retiradas do paciente ataca o vírus através da haste de uma das proteínas dele, freando a infecção. Em testes com ratos, a terapia protegeu os animais infectados de uma versão letal do vírus. Detalhes do trabalho, resultado de uma colaboração científica internacional, estão na edição de hoje da revista Science.
O doador que cedeu o sangue para o experimento desenvolveu potente defesa natural contra o ebola. Passados três meses da infecção, os pesquisadores analisaram a amostra retirada do paciente e notaram que ela apresentava forte resposta imune. Usando um novo método ; a tecnologia de isolamento de linfócito ;, os cientistas separaram 349 anticorpos do plasma e constataram que 77% deles conseguiam neutralizar o agente infecioso de diferentes maneiras.
Para identificar quais dessas moléculas eram as mais eficientes, a equipe preparou uma série de coquetéis com combinações diversas de anticorpos. As misturas foram testadas em ratos infectados com uma versão fatal do ebola dois dias antes. O experimento mostrou que os animais com melhor taxa de sobrevivência receberam um conjunto de moléculas com uma habilidade muito especial e até então desconhecida pelos cientistas: elas se ligam à haste de uma glicoproteína localizada na superfície do vírus, inibindo, assim, a replicação do micro-organismo e barrando a infecção.
A maioria das misturas de anticorpos testadas demonstrou taxa de sobrevivência acima de 60%, mas algumas chegaram a proteger 100% dos animais. ;Os resultados mostraram que os anticorpos que atacam esse novo ;ponto fraco; são capazes de proteger os ratos contra uma infecção do vírus ebola que seria letal;, aponta Laura Walker, uma autora do trabalho e pesquisadora da Adimab, empresa de biotecnologia financiada pelo Google.
O estudo, segundo ela, sugere que essa nova arma poderá ser usada para o desenvolvimento de terapias contra o vírus, inclusive uma vacina. ;Se nós tivéssemos administrado os anticorpos antes de inocular os ratos com o vírus ebola, é bastante provável que eles ainda protegeriam (os animais). Geralmente, anticorpos são bem mais eficientes se estão presentes antes da infecção;, ressalta Walker. ;Uma vacina poderia ser criada para expôr esse ponto em particular do sistema imune de forma que a resposta do corpo em pessoas vacinadas seja focada nessa região;, acredita.
Controle de epidemias
O próximo passo da pesquisa é identificar quais anticorpos reagem com outras cepas do vírus e testá-los em macacos infectados. A intenção da equipe é avaliar o uso da estratégia em futuras epidemias. ;Esperamos identificar alvos, como a haste da glicoproteína do vírus, na glicoproteína que é conservada em todas as espécies e as cepas do vírus ebola para criar vacinas que potencialmente permitirão uma resposta protetora contra todos os tipos dele;, afirma Zachary Bornholdt, pesquisador do Scripps Research Institute em La Jolla, na Califórnia, e principal autor do estudo.
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