Ciência e Saúde

Tamanho dos molares de homens e ancestrais segue proporção bem definida

A descoberta ajudará no estudo da evolução humana e pode até mesmo mudar a classificação do Homo habilis

Roberta Machado
postado em 25/02/2016 06:00

Alistair Evans:


Cascas de árvore, carne crua, plantas e até ossos eram alguns dos itens que integravam o cardápio dos nossos ancestrais. Para devorar esses itens, eles tinham ; porque precisavam ; ferramentas de mastigação muito mais robustas que as do homem moderno. Os pequenos e delicados dentes do homem moderno só se tornaram possíveis com a mudança dos hábitos alimentares, que se transformaram ao longo dos anos até que as refeições se tornassem muito mais fáceis de engolir.

Até agora, esse processo evolutivo era visto pelos cientistas como algo um tanto caótico e despadronizado. Um estudo publicado na revista Nature, contudo, mostra que a transformação dentária foi bastante ordenada, seguindo uma espécie de regra matemática. Ao analisar a dentição de hominídeos e de homens modernos, pesquisadores concluíram que o tamanho dos dentes segue um padrão que pode ser calculado e previsto para cada espécie, ancestral ou atual. A descoberta vai ajudar no estudo de fósseis e da evolução humana e pode, por exemplo, explicar por que o dente do siso é cada vez mais raro.

[SAIBAMAIS]O trabalho foi realizado com base em um catálogo coletado ao longo de décadas, com quase 500 dentes de 293 fósseis, representando 14 espécies de hominídeos. As medidas das amostras foram comparadas com dados de 60 populações humanas, além de quatro tipos atuais de grandes símios. A pesquisa revelou que o tamanho de um molar é equivalente à média das dimensões dos dois dentes que o acompanham na mesma fileira. A relação, chamada de efeito cascata inibitório, teria origem ainda na fase embrionária: as dimensões dos dentes de leite determinam o tamanho dos molares adultos, formando um padrão que pode ser medido e calculado.

Projeções
De acordo com a norma, seria possível prever o tamanho de todos os molares ; de qualquer espécie de primata, incluindo o homem e seus ancestrais ; com base num único dente da fileira. A fórmula pode ser bastante útil para paleontólogos, pois os dentes estão entre as características mais estudadas para definir traços de uma espécie extinta, como a alimentação e o desenvolvimento durante a infância. E, embora esse seja o tecido mais duro do corpo humano e normalmente se preserve por muito tempo, é bastante raro localizar um fóssil com uma arcada completa. Um exemplo é o hominídeo do gênero Ardipithecus, cujo segundo molar nunca foi encontrado, mas que agora pode ter o tamanho calculado com base na nova regra.

;Como nós descobrimos que a norma se aplica a hominídeos e grandes símios, isso torna a nossa visão da evolução humana muito mais simples. Antes, nós pensávamos basicamente que a evolução era um processo muito mais casual, então nós tínhamos de considerar cada fóssil separadamente. Com o efeito cascada inibitório, nós temos uma forma padrão para como os dentes são feitos;, explica Alistair Evans, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade Monash, na Austrália.

A norma, acreditam pesquisadores, pode explicar por que o dente do siso não tem mais espaço na boca de muita gente. O processo de redução dental estaria atualmente num ponto evolutivo em que os últimos molares não chegam nem mesmo a se desenvolver em alguns indivíduos. ;Isso simplifica bastante nossa visão da evolução humana e mostra que há grandes restrições na forma como evoluímos. De fato, isso nos dá uma ideia de como os dentes humanos seriam se nós continuássemos evoluindo;, ressalta Evans.

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