Ciência e Saúde

Ambiente do tumor pode indicar risco de metástase, mostra estudo

A equipe descobriu que vasos linfáticos mais esparsos e menor quantidade de células-T no tumor e ao redor dele estão fortemente associados com o agravamento da doença

Isabela de Oliveira
postado em 25/02/2016 10:43
O microambiente do tumor pode desempenhar um papel mais importante que o próprio câncer no desenvolvimento de metástase. É o que mostra um estudo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa Médica e de Saúde, na França. Ao pesquisar amostras tumorais de mais de 1.567 pessoas com câncer colorretal, a equipe coordenada por Jérôme Galon descobriu que vasos linfáticos mais esparsos e menor quantidade de células-T no tumor e ao redor dele estão fortemente associados com o agravamento da doença. Segundo eles, esse pode ser um biomarcador potencial para prever a propagação generalizada do câncer.

[SAIBAMAIS]Detalhada na Science Translational Medicine desta semana, a pesquisa mostra que indivíduos com baixa pontuação no que os cientistas chamam de immunoscore tendem a sofrer mais com a metástase. Essa medida estratifica pacientes com base nas densidades de células imunitárias que se infiltram no tumor, além da localização dele, em uma escala de 0 a 4. Outro dado importante é que, enquanto a densidade de vasos sanguíneos que alimentam o tumor foi semelhante em todos os pacientes, a presença de vasos linfáticos foi marcadamente reduzida em pacientes com câncer metastático.

A equipe suspeita que menos vasos linfáticos dificultam que o tumor seja atacado por células imunológicas, favorecendo a propagação da doença. ;No geral, nossos dados mostram que a metástase distante é uma consequência e não uma causa da diminuição de vasos linfáticos e linfócitos, e que o fenótipo imunológico é suscetível de constituir um fator determinante na prevenção da propagação de células tumorosas para órgãos distantes;, diz Galon.



Para Gustavo Fernandes, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês ; Unidade Brasília, o estudo reforça a importância da imunoterapia como um tratamento promissor. ;Um caso de sucesso é o de Jimmy Carter, que conseguiu reverter um quadro complicado com essa técnica;, diz. O especialista acredita ser possível que os cientistas consigam modular os genes de pacientes oncológicos para aumentar a expressão de substâncias importantes e, consequentemente, evitar a metástase.

;Mas essa é uma outra linha de pesquisa que busca como, a partir de mutações, aumentar a expressão de substâncias que sejam reconhecidas pelo sistema imunológico desses pacientes. Provavelmente, após esse estudo, alguém vai pensar nisso, se não é que já pensou;, cogita. Avanços no tratamento de tumores serão tema de um simpósio que o Sírio-Libanês realizará, no sábado, no Centro de Convenções Brasil 21. Entre os temas previstos, estão imunoterapia oncológica e sustentabilidade, tecnologias e tratamentos.

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