Ana Clara Brant - Especial para o Correio
postado em 29/02/2016 06:00
Belo Horizonte ; João*, 37 anos, tinha 13 quando ocorreu seu primeiro contato com as drogas. Começou inalando tíner e cola. Com o tempo, ficou dependente também de maconha, álcool, crack e cocaína. Depois de quase duas décadas imerso nessa realidade, o professor decidiu largar as drogas, já que havia perdido praticamente tudo o que tinha. ;Sem contar que eu estava muito infeliz com aquela situação, vendo a minha família passar por tudo aquilo e ainda estar doente por minha causa. Foi então que decidi procurar ajuda. Fui atrás de todo tipo de tratamentos por diversas vezes, mas nenhum surtiu efeito. Saía da clínica e, imediatamente, ia para a rua comprar crack, fumava e voltava a sentir e a ter aquela sensação de prazer de que eu gostava;, recorda.Até que um dia João descobriu, conversando com um parente, a substância que mudou a sua vida: a ibogaína, derivada da raiz da planta iboga, nativa do Gabão e de Camarões, na África. ;O tratamento é maravilhoso, recomendo a todos que querem se livrar do vício. A ibogaína conseguiu fazer com que eu parasse para refletir, lembrando de experiências que sempre me fizeram mal e do quanto fiz minha mãe e minha família sofrerem. O tratamento, além de apresentar efeitos positivos em relação ao abandono das drogas, tem um poder de reflexão interior, algo que eu não tinha. Era egoísta e pouco ligava para os outros. Hoje, consigo parar e pensar muito antes de agir. Posso garantir que esse efeito é de longo prazo;, assegura o mineiro.
A experiência vivida pelo professor repete-se em clínicas e instituições do Brasil e foi alvo de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A equipe, liderada pelo psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, testou a ibogaína em 75 pacientes, homens e mulheres que, além de receberem a substância, participaram de sessões de psicoterapia. Ao fim de um ano, 51% dos homens e 100% das mulheres tiveram um resultado positivo com a ibogaína. ;As taxas de sucesso, maiores que 60%, chamam a atenção. Os tratamentos tradicionais apresentam índices de 30% apenas;,compara Silveira. O estudo brasileiro foi o primeiro a detectar os efeitos da planta africana em relação ao vício em estimulantes, como a cocaína. Estudos anteriores trataram derivados do ópio, que diminuem a atividade do cérebro.
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