A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 90% dos pacientes com lesão na medula espinhal precisam usar cadeiras de rodas. Contudo, para indivíduos com quadros mais graves de paralisia ; como tetraplégicos que perderam o movimento completo dos braços e pacientes com doenças neurodegenerativas em estágio avançado ;, o instrumento não garante independência de locomoção. Um novo estudo da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, traz a expectativa de que, no futuro, esse problema seja superado, e pacientes nessas condições possam se locomover apenas com a força do pensamento.
No trabalho, descrito na edição mais recente da revista Scientific Reports, os pesquisadores desenvolveram um sistema que, implantado no cérebro de macacos rhesus, capta os impulsos cerebrais dos animais e os transmitem por meio de tecnologia sem fio para um computador que comanda uma cadeira de rodas. Dessa forma, depois de algum tempo, dois animais usados no experimento aprenderam a controlar a cadeira com a mente, direcionando-a e acelerando-a com muita precisão.
O estudo é uma continuidade do trabalho de Nicolelis com as interfaces cérebro-máquina (ICM), sistemas que, como o nome indica, ligam a mente a computadores. Por meio dos ICMs, o neurocientista conseguiu fazer com que animais controlassem membros artificiais e ajudou um homem paraplégico a chutar uma bola de futebol na abertura da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Agora, ele e sua equipe mostram que também é possível utilizar implantes corticais para facilitar o movimento do corpo todo. ;Este é o primeiro trabalho a utilizar uma interface sem fio com 512 canais e que permite uma navegação do corpo inteiro do animal. Isso nos sugere que poderíamos fazer o mesmo com pessoas, o que faremos em breve;, diz o pesquisador.
Plasticidade
Os experimentos começaram em 2012, com implantes de centenas de microfilamentos na região pré-motora e somatossensorial do cérebro de dois macacos rhesus plenamente saudáveis. Nos testes, cada um dos primatas teve a atividade de cerca de 300 neurônios medida. Inicialmente, os animais foram ensinados que a cadeira onde ficavam podia levá-los até um prêmio, uma tigela com uvas. Nessa fase de treinamento, o equipamento se movia por conta própria, enquanto os cientistas gravavam a atividade elétrica cerebral dos bichos. Esses sinais captados serviram para programar um sistema de computador que traduzisse os impulsos neuronais em comandos para a cadeira de rodas.
Ao contrário de experiências anteriores conduzidas por Nicolelis, os primatas não foram treinados com videogames comandados por joysticks. Esse é um ponto importante, visto que alguns tetraplégicos não podem usar as mãos ou outras partes do corpo para se acostumarem ao sistema. Álvaro Machado Dias, neurocientista e professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera esse ponto particularmente notável.
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