Nos filmes policiais, as digitais deixadas em objetos são pistas que parecem infalíveis para desvendar os mais complicados casos e apontar os culpados por trás de roubos e assassinatos. Uma pesquisa brasiliense, contudo, mostra que a realidade é muito mais complexa do que os filmes fazem crer. Segundo o estudo, coordenado por Lara Rosana Vieira, papiloscopista da Polícia Civil do Distrito Federal, com o passar do tempo, as marcas dos dedos humanos sofrem alterações significativas que podem impedir a identificação de dados colhidos em cenas de crimes.
[SAIBAMAIS];A ideia dessa pesquisa surgiu da nossa prática no Instituto de Identificação. Quando tínhamos de identificar pessoas idosas, percebíamos que havia muita dificuldade na análise da impressão das digitais. Em muitos casos, não conseguíamos compará-las com os dados que já tínhamos;, conta Vieira, que fez o trabalho durante mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Os resultados foram publicados na revista especializada Forensic Science International.
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Para analisar a transformação das impressões com o passar do tempo, a pesquisadora contou com dados existentes nos postos do Na Hora, serviço de atendimento imediato ao cidadão que concentra atividades como emissão de passaporte e registro civil. Lá, obteve as marcas dos dedos de 40 idosos (20 homens e 20 mulheres) colhidas mais de 30 anos atrás, o que possibilitaria uma comparação com as digitais dessas mesmas pessoas hoje.
Incompatíveis
Na primeira etapa, as amostras atuais foram lançadas no Sistema Automatizado de Identificação de Impressões Digitais (conhecido pela sigla Afis). O software só foi capaz de relacionar as impressões com as antigas em 57% dos casos. Em um segundo momento, peritos papiloscopistas realizaram o trabalho nas digitais restantes. Com o esforço dos especialistas, a identificação subiu para 70% dos voluntários. ;Portanto, 30% dos indivíduos não foram identificados. Mesmo fazendo o confronto direto, já sabendo de quem era a digital, 10% se mostraram incompatíveis;, acrescenta Selma Kuckelhaus, professora da Faculdade de Medicina da UnB e orientadora do estudo.
Segundo a professora, o resultado serve de alerta para que os bancos de dados da polícia sejam mantidos sempre atualizados. Caso contrário, por exemplo, um assassinato cometido por uma pessoa de 70 anos e cujas digitais sejam encontradas na arma do crime pode acabar sem resposta. ;Se o banco da polícia estiver desatualizado porque pegaram a impressão desse indivíduo quando ele tinha 20 anos, depois de 50 anos, devido as mudanças, o sistema automatizado não conseguirá encontrar um padrão compatível. O assassino sairá impune;, diz Kuckelhaus.
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