Ciência e Saúde

Estudo mostra como homens e mulheres avaliam a própria condição bucal

A maioria, 67%, considera boa ou muito boa, mas especialistas criticam o excesso de extrações de dente e ressaltam a influência de fatores econômicos e sociais nos cuidados orais

Isabela de Oliveira
postado em 20/03/2016 08:10
Se os motivos para se alegrar são poucos, as condições para sorrir são ainda piores: além dos percalços de uma situação socioeconômica ruim, a porção mais vulnerável de brasileiros tem boca carente de dentes, próteses e cuidados básicos. Estudo recentemente publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva mostra como o país percebe o próprio sorriso: homens, idosos, negros, pardos, indivíduos sem instrução e com nível fundamental incompleto, residentes na área rural e na Região Nordeste são os que menos consideram a própria saúde bucal como boa ou muito boa. Formam também o grupo com indicadores de higiene bucal mais inadequados, apontam pesquisadores da Secretaria de Vigilância em Saúde, ligada ao Ministério da Saúde, e da Universidade de Adelaide, na Austrália.

Ao contrário de pesquisas epidemiológicas, em que consultas clínicas e exames verificam o estado dos participantes, esse estudo observou como as pessoas percebem a própria saúde bucal. Os autores utilizaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, que contou, pela primeira vez, com um bloco dedicado ao tema. Respondida por mais de 60 mil pessoas, ela oferece um panorama de indicadores que podem ser monitorados ao longo do tempo. A condição da boca foi avaliada como boa ou muito boa por 67,4% das pessoas.

As mulheres, de forma geral, são mais cuidadosas. Mas os resultados, nem sempre melhores. Elas compõem o maior percentual (13,3%) de indivíduos sem nenhum dente (11%). Dos que perderam 13 ou mais dentes (23%), também são maioria (26,3%). O fenômeno não é exclusivo do Brasil, segundo Marco Aurélio Peres, coautor do estudo e diretor do Centro de Pesquisa Australiano de Saúde Oral Populacional, da Universidade de Adelaide. Não há consenso sobre as causas, mas pode-se especular que elas vão ao dentista com regularidade. ;Intervenções mais frequentes podem levar à perda dos tecidos dos dentes e a extrações. É um processo lento, que ocorre ao longo da vida;, diz.

Peres sublinha que, em quase todas as sociedades, as mulheres estão em condição socioeconômica inferior. ;A interação entre esses dois fatores, basicamente sociais, políticos e culturais, hipoteticamente, resultam no quadro. Por isso desigualdades sociais em saúde estão na raiz das causas das doenças e dos agravos;, esclarece o pesquisador.

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