Liderada por Eric Chow, do Fred Hutchinson Cancer Research Center, nos EUA, a pesquisa é baseada em dados do projeto Childhood Cancer Survivor Study, que acompanhou pessoas com menos de 21 anos diagnosticadas com as formas mais comuns de câncer infantil: todos os tipos de leucemia, tumores do sistema nervoso central, linfoma, tumor nos rins, neuroblastoma, sarcoma de tecido mole e tumor nos ossos. Os pacientes foram tratados em 27 centros de saúde dos EUA e do Canadá entre 1970 e 1999.
A equipe de Chow analisou o impacto de 14 quimioterápicos comumente prescritos sobre 10.938 pessoas. Os dados foram comparados com os de 3.949 irmãos saudáveis delas. O estudo analisou, especificamente, sobreviventes tratados com quimioterapia e que não receberam radioterapia na pelve ou no cérebro. Aos 45 anos, 70% das ex-pacientes tinham engravidado, em comparação a mais de 80% das irmãs delas. Entre os homens, a taxa foi substancialmente menor: 50%, contra 80% dos irmãos. No caso deles, a probabilidade de gerar uma criança diminuiu à medida que aumentaram as doses cumulativas de fármacos alquilantes ; ciclofosfamida, ifosfamida, cisplatina e procarbazina ; no tratamento durante a infância.
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Gustavo Fernandes explica que os medicamentos têm como efeito colateral lesões no DNA dos pacientes. ;As células primordiais do testículo estão entre as mais afetadas. Elas, assim como os ovários, podem sofrer lesões que se perpetuam para o futuro. No entanto, nos ovários, atuam menos, pois lá os óvulos estão em repouso. Os espermatozoides, não: estão sempre se replicando. Por isso, é natural e até esperado que os homens sofram mais com o tratamento;, detalha o médico.
Os resultados da equipe de Chow são consistentes com estudos anteriores, mostrando o impacto maior sobre os homens, como menor contagem de espermatozoides e volume testicular reduzido. Os autores ressaltam que a dose de ifosfamida capaz de prejudicar os meninos é muito menor do que a considerada de alto risco pelas diretrizes atuais. Nas mulheres, as substâncias mais danosas foram busulfan e lomustine. A dificuldade foi maior entre aquelas que preferiram engravidar depois dos 30 anos. É possível que a exposição à quimioterapia acelere o esgotamento natural dos óvulos e acelere a menopausa.
[SAIBAMAIS]Pacientes especiais
A preocupação com a fertilidade é maior entre as crianças com cânceres porque elas não podem ser submetidas a todas as intervenções disponíveis aos adultos. Maurício Chehin, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington, em São Paulo, explica que meninas que não atingiram a puberdade não podem fazer tratamentos voltados para óvulos e embriões. ;As pré-púberes, no entanto, podem congelar o tecido ovariano;, explica. O material, no futuro, é implantado na paciente que deseja engravidar.
Os meninos também não podem ser estimulados para preservar o sêmen. ;Mas, se já atingiram a puberdade, é possível coletar e congelar. Uma vez que é criança, contudo, sobraria apenas congelar o tecido testicular. O problema é que, ainda hoje, não existe nenhuma criança nascida da preservação desse tecido. É uma técnica experimental, assim como a utilizada com as meninas. Apesar disso, existem mais de 60 nascidos vivos no mundo graças ao transplante de tecido ovariano;, pontua Chehin.
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