Ciência e Saúde

Pesquisadores norte-americanos desvendam estrutura completa do vírus zika

O estudo, apresentado na revista Science, é um passo fundamental para entender como o micro-organismo age no corpo humano e criar remédios e vacinas para combatê-lo

Vilhena Soares
postado em 01/04/2016 06:00

Cientistas deram um passo fundamental para a criação de tratamentos e vacinas que combatam a zika. Em um artigo publicado na revista Science, um grupo liderado pela Universidade Purdue, nos Estados Unidos, apresentou a estrutura completa do vírus causador da doença, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e associado ao aumento de casos de bebês com microcefalia em diferentes países, inclusive o Brasil, um dos mais afetados pelo problema.

São as diferenças apresentadas pelo micro-organismo, no entanto, que mais devem ajudar os cientistas a combatê-lo, especialmente um mecanismo que ajuda na propagação do zika no corpo humano e que não é encontrado em outros flavivírus


Segundo os autores do trabalho, agora que se conhece o micro-organismo de forma detalhada, torna-se possível buscar pontos frágeis que permitam matá-lo ou torná-lo inofensivo. ;A estrutura do vírus fornece um mapa que mostra potenciais regiões que poderiam ser alvo de tratamentos terapêuticos, usadas para criar uma vacina efetiva ou melhorar nossa habilidade de diagnosticar e distinguir a infecção por zika;, afirma em um comunicado à imprensa Richard Kuhn, diretor do Instituto Purdue para Inflamação, Imunologia e Doenças Infecciosas e líder do estudo ao lado do colega Michael Rossmann.


[SAIBAMAIS]O estudo utilizou a microscopia eletrônica para criar uma imagem em altíssima resolução de uma cepa que infectou um paciente na Polinésia Francesa em 2013. Uma boa notícia trazida pelo trabalho é que o zika, como se suspeitava, é parecido com outros flavivírus, grupo de micro-organismos que incluem os causadores da dengue e da febre amarela. Dessa forma, pesquisas já avançadas para a criação de vacinas contra essas duas enfermidades podem ajudar na produção de uma imunização contra o zika.


São as diferenças apresentadas pelo micro-organismo, no entanto, que mais devem ajudar os cientistas a combatê-lo, especialmente um mecanismo que ajuda na propagação do zika no corpo humano e que não é encontrado em outros flavivírus. Os investigadores explicam que essa distinção está em aminoácidos que rodeiam a glicosilação, um processo que adiciona açúcares às proteínas e lípidos e está relacionado à ligação entre o invasor e células humanas.


O processo, que ocorre na superfície do vírus, parece crucial para a infecção. É como se ela servisse como um assassino que oferece doces para atrair a vítima e dominá-la em seguida. De acordo com os pesquisadores, esses aminoácidos talvez expliquem os efeitos neurológicos provocados pelo zika. ;A maioria dos vírus não invade o sistema nervoso nem afeta o desenvolvimento do feto devido a barreiras placentárias. Mas a associação com o desenvolvimento do cérebro impróprio em fetos sugere que o zika consegue fazer isso. Não está claro como esse vírus ganha acesso a essas células, e essas diferenças estruturais podem estar envolvidas;, afirma Devika Sirohi, coautor do artigo.

Inibidor
Para Lavinia Schuler-Faccini, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Medica (SBGM), os achados são muito interessantes e podem explicar a diferença entre os flavivírus conhecidos há mais tempo e o zika. ;Isso é muito importante, pois nos ajuda a entender a distinção em relação, por exemplo, à dengue, uma doença que não produz malformação dos fetos. O neurotropismo do zika, que é a predição do vírus pelo sistema nervoso, pode surgir desse ponto. Isso pode explicar também os efeitos distintos dos flavivírus em adultos, já que, muitas vezes, quem pega o zika não mostra sintomas nem se dá conta de que teve a doença, o que não ocorre na dengue;, avalia a especialista, que não participou do estudo.


Os autores do trabalho acreditam que investigar esse mecanismo de glicosilação deve orientar as próximas pesquisas. ;Talvez, um inibidor poderia ser concebido para bloquear essa função e evitar que o vírus infecte as células humanas;, diz Michael Rossmann, também por meio de um comunicado. A equipe, contudo, também vai avaliar as outras regiões que parecem representar uma vulnerabilidade para o zika.

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