Nos últimos anos, a qualidade de vida das pessoas com diabetes 1 melhorou consideravelmente. Tratamentos voltados aos sintomas da doença autoimune têm evitado ou adiado complicações que, no passado, eram quase inevitáveis. Ainda assim, a enfermidade rouba, em média, 12,2 anos da longevidade dos pacientes, segundo estudo epidemiológico feito com 902.136 pessoas na Austrália, entre 1997 e 2010. De acordo com os autores, que publicaram o trabalho na revista Diabetologia, da Associação Europeia para Estudos do Diabetes, o resultado da pesquisa é universal. ;Como esse é um estudo de coorte contemporâneo, baseado em registros tomados em toda a nação, os resultados podem ser aplicados a outros países ocidentais similares;, observaram.
Responsável por 10% dos casos de diabetes, doença que, no Brasil, tem 14,3 milhões de pessoas diagnosticadas no total, o tipo 1 caracteriza-se pela autodestruição das células produtoras de insulina. Por motivos que ainda não foram esclarecidos, o próprio organismo deflagra um ataque a essas estruturas do pâncreas. Em relação à forma 2, que é a mais comum, a autoimune tem a desvantagem de não poder ser prevenida. Além disso, os sintomas se instalam vagarosamente, resultando, quase sempre, no diagnóstico tardio. As complicações associadas à doença são as mesmas do tipo 2: risco maior de cegueira, arteriosclerose, doença renal, dano nos nervos (neuropatia) e suscetibilidade maior a infecções.
[SAIBAMAIS]O estudo australiano, conduzido pelo Instituto de Diabetes de Melbourne, acompanhou registros médicos de mais de 900 mil pacientes de diabetes 1 entre 1997 e 2010. Ao longo desse período, houve 5.981 óbitos, fazendo com que a expectativa de vida dessas pessoas ao nascer fosse de 68,6 anos ; 12,2 a menos que a população em geral. Segundo a pesquisa, para homens, 60% das mortes precoces ocorrem entre pacientes com menos de 60 anos; já no público feminino, o percentual é de 45%. As complicações que mais contribuíram para a perda de anos de vida foram doenças endócrinas e metabólicas na faixa dos 10 aos 39 anos e males circulatórios acima dos 40.
De acordo com Dianna Magliano, epidemiologista do Instituto de Diabetes de Melbourne e principal autora do estudo, a expectativa de vida entre pacientes de diabetes 1 melhorou muito nas últimas décadas: em 1975, eles viviam 27 anos a menos que a população em geral, conforme demonstrou um estudo realizado nos Estados Unidos. Levantamentos similares conduzidos na Romênia, na Escócia e na Suécia apontaram para realidades semelhantes.
Ela ressalta que, embora não existam tratamentos ainda para atacar as causas do diabetes 1, é possível evitar as mortes por complicações quando o paciente é diagnosticado precocemente e acompanhado de forma contínua, com atenção especial a possíveis problemas metabólicos e cardiovasculares. ;Os serviços de saúde precisam focar uma atenção maior tanto em relação às complicações metabólicas agudas quanto às de ordem cardiovasculares crônicas. Enquanto continuarmos falhando em nos adereçar a essas questões, os pacientes de diabetes 1 continuarão em risco de morte prematura e evitável;, diz.
Assistência
Coordenadora de Epidemiologia da Sociedade Brasileira de Diabetes, Bianca de Almeida Pititto destaca que, no Brasil, não há estudos semelhantes ao conduzido na Austrália. Contudo, a médica afirma que a realidade não é diferente. ;Independentemente do país, a pessoa com diabetes é um paciente de risco, principalmente para as complicações crônicas, como acidente vascular cerebral, insuficiência renal e infarto agudo do miocárdio. Essas são as principais causas de mortalidade precoce desses pacientes em qualquer local do mundo;, diz. Ela lembra que o controle das comorbidades associadas a qualquer tipo de diabetes depende do acesso aos serviços de saúde, da realização de exames periódicos e do uso crônico de medicamentos, o que, em países em desenvolvimento, como o Brasil, ainda são questões deficitárias. ;Imagino que o gap de expectativa de vida seja parecido aqui ou até um pouco maior;, diz.
A médica recorda que a mortalidade precoce ; definida por óbitos antes dos 45 anos ; por diabetes 1 e 2 pode ser evitada ou bastante reduzida quando os fatores de risco são controlados. Além de possíveis dificuldades no acesso ao tratamento, Bianca de Almeida Pititto afirma que a falta de informação é um complicador da doença. Uma enquete realizada pela Sociedade Brasileira de Diabetes com 1 mil pessoas mostrou que, mesmo entre pacientes, a confusão é grande: alguns tinham a doença, mas não sabiam se portavam o tipo 1 ou o 2. ;Estudos também sugerem que chega a 50% do número de pacientes a quantidade de pessoas que têm diabetes, já apresentam sintomas das complicações, mas não receberam o diagnóstico;, diz.
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