Ciência e Saúde

Estratégia de eliminar mamíferos invasores é eficiente, mas divide opiniões

A retirada forçada de animais, como ratos e gatos domésticos, é usada para preservar a biodiversidade em ilhas. No entanto, a medida, exige práticas extremas, o que divide especialistas

postado em 06/04/2016 07:34
A ave storm-petrel, típica da Nova Zelândia: animal foi classificado como criticamente em perigo depois da invasão de ratos em seu hábitat

Na lógica da natureza, cada ambiente deve ter a conta certa de predadores e caças para manter a diversidade e o equilíbrio ecológico. Por isso, quando animais exóticos ocupam e se reproduzem em ambientes despreparados para recebê-los, espécies nativas passam a correr risco de extinção ; segundo ambientalistas, essa é a segunda maior causa do desaparecimento de bichos, atrás apenas da perda de hábitat. Em grande parte das vezes, por trás dessa perigosa invasão, está o homem. Ao ocupar determinada área, o ser humano leva consigo mamíferos como gatos, cães e cabras, além de favorecer a proliferação de ratos. Com o tempo, o aumento desses bichos se torna um enorme problema, especialmente em áreas restritas como ilhas. Nesses locais, sem ter para onde correr, espécies originais se tornam presas fáceis.

[SAIBAMAIS]O que fazer nesse caso? A resposta pode soar digna de pessoas que não se importam com animais, mas é defendida por ambientalistas sérios: eliminar a presença desses mamíferos introduzidos pelo homem. A medida causa polêmica porque, muitas vezes, a única forma de fazer isso é por meio do uso de armas de fogo, esterilização e envenenamento, ao lado de medidas como a proibição de que os habitantes criem ou abandonem animais nessas áreas.

Benefícios
Um recente estudo, conduzido pela Universidade do Nordeste de Illinois, em parceria com a organização não governamental Island Conservation, ambas nos Estados Unidos, traz argumentos para os defensores da intervenção radical. No trabalho, publicado na revista especializada Pnas, a equipe revisou pesquisas e dados de erradicação de animais invasores em dezenas de ilhas oceânicas, boa parte iniciada na década de 1970. Os resultados mostraram que 236 espécies nativas terrestres foram diretamente beneficiadas pelas 251 ações de erradicação de mamíferos em 181 ilhas. Com a medida, nenhuma espécie saiu da categoria de ;risco de extinção; para ;alto risco de extinção; na Lista vermelha, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), o que, segundo os autores do estudo, sinaliza um ganho diretamente relacionado à erradicação.



Segundo Enrico Bernard, professor de biologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a erradicação de mamíferos é uma medida drástica, à qual se deve recorrer quando a situação foge do controle. ;É a última alternativa, aplicada quando outras tentativas, como castração e criação de zonas livres, não dão certo;, explica. ;As pessoas não entendem que, em algumas situações, é preciso erradicar, visando à proteção de espécies. Isso é quase um tabu;, completa.

Na visão da bióloga Simone Lima, diretora-geral da Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal (Proanima), a erradicação de animais é uma medida antiética, do ponto de vista dos direitos dos animais, e não é eficiente, uma vez que existe a irresponsabilidade humana. ;Não adianta erradicar se o entorno da área de conservação é habitado por humanos. Os bichos invadem porque os humanos soltam lá. O que se deve fazer é conscientizar a população sobre a guarda responsável, fazer a castração dos animais.;

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