Ciência e Saúde

Biópsia líquida: exame de sangue diagnostica câncer de pulmão

A análise busca DNA do tumor na corrente sanguínea dos pacientes

postado em 08/04/2016 06:00

Um simples teste de sangue desenvolvido por pesquisadores dos Estados Unidos foi capaz de detectar rapidamente e com alto índice de precisão mutações em dois genes que desempenham papel essencial no câncer de pulmão de células não pequenas. Trata-se do tipo mais comum dessa doença, que, no Brasil, deve afetar 28.220 novos pacientes neste ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Estima-se que 30% dos doentes tenham mutações em algum dos genes incluídos no estudo e possam ser tratados com terapias-alvo. A pesquisa foi publicada na revista Jama Oncology.

Chamada de biópsia líquida, a técnica foi tão bem-sucedida que o Instituto Dana-Barber/Brigham e o Centro de Câncer da Mulher, envolvidos na pesquisa, decidiram oferecê-la a todos os pacientes desse tumor, tanto para o diagnóstico inicial quanto para rastrear relapso de pacientes já tratados. Até agora, o método é utilizado apenas em testes, mas, cada vez mais, apresenta resultados promissores, com a vantagem de ser menos invasivo que a biópsia tradicional.

[SAIBAMAIS]A genotipagem rápida de plasma ; nome técnico da biópsia líquida ; envolve a retirada de um tubo de sangue, que contém DNA circulante deslocado das células cancerígenas. A amostra passa por análise de DNA em busca de mutações ou de outras anomalias. De acordo com os pesquisadores que estudam o método, quando células tumorais morrem, o DNA delas se espalha pela corrente sanguínea. Em diversos estudos que vêm sendo realizados mundo afora, já foi possível identificar diversos tumores oncológicos, incluindo próstata e mama.

;Nós vemos a genotipagem do plasma como tendo um potencial enorme de teste clínico. É uma forma rápida e não invasiva de rastrear o câncer, evitando os desafios da biópsia invasiva tradicional;, diz Geoffrey Oxnard, oncologista torácico e pesquisador de câncer de pulmão do Instituto Dana-Faber e do Hospital da Mulher Brigham (DF/BWCC). Oxnard é o principal autor do estudo publicado na Jama Oncology. ;Nosso trabalho foi o primeiro a demostrar prospectivamente que a técnica da biópsia líquida pode ser uma ferramenta prática para tomarmos decisões no tratamento dos pacientes oncológicos. O teste foi um sucesso tão grande que estamos transformando o ensaio em um teste clínico para os pacientes da DF/BWCC;, complementa.

Resultados comparados
O estudo envolveu 180 pessoas com câncer de pulmão de células não pequenas, sendo que 120 haviam acabado de receber o diagnóstico da doença e 60 se tornaram resistentes ao tratamento anterior, fazendo com que o tumor recorresse. Todos foram testados para mutações nos genes EGFR e KRAS e para uma mutação separada no EGFR que permite às células tumorais se tornarem resistentes às drogas de primeira linha. O teste foi realizado com uma técnica conhecida como reação digital de cadeia polimerase em quantidade ínfima (ddPCR, pela sigla em inglês), que conta as letras individuais do código genético do DNA da célula doente para determinar se mutações específicas estão presentes.

Cada participante também foi submetido à biópsia tradicional para testar as mesmas alterações. Os resultados foram, então, comparados. Os dados mostraram que o exame de sangue traz resultados muito mais rapidamente, algo essencial no tratamento de câncer. Em média, foram necessários três dias para as conclusões, sendo que, no caso da análise convencional, o tempo variou de 12 dias (caso dos pacientes que acabaram de ser diagnosticados) e 27 dias (naqueles com câncer recorrente).

Além disso, o novo método mostrou-se muito mais preciso. Nas pessoas que receberam o diagnóstico recentemente, o valor preditivo do plasma ddPCR foi de 100% para a mutação EGFR primária e a mutação KRAS ; em outras palavras, pacientes que testaram positivo para uma ou outra mutação tiveram certeza total da presença dessas alterações no tumor. Para aqueles com variação no gene EGRF resistente, o valor preditivo foi de 79%, sugerindo que o teste de sangue conseguiu encontrar casos adicionais da mutação que não haviam sido identificados pela biópsia tradicional.

A matéria completa está disponívelaqui, para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação