Ciência e Saúde

Pessoas podem desenvolver emoções em relações a máquinas

Para alguns especialistas, esse fato estimula a inserção de androides no dia a dia, mas outros temem prejuízos na qualidade das relações humanas

Paloma Oliveto
postado em 10/04/2016 08:00
Pigmaleão era um escultor grego que, decepcionado com o comportamento das cipriotas, resolveu, ele mesmo, esculpir a mulher ideal. De um bloco de marfim trabalhado por seu cinzel, nasceu a mais perfeita das criaturas aos olhos do amargo artista. Encantado, ele encheu a estátua de presentes, carinhos, beijos, abraços. O amor de Pigmaleão pelo objeto inanimado comoveu a deusa Afrodite, que concedeu vida à obra. No poema de Ovídio, eles se casaram e até tiveram uma filha. Em algumas reinterpretações, porém, a estátua, batizada de Galeteia, desagrada da nova condição e retorna ao estado original.

O mito grego, que, por sua vez, é inspirado em um conto fenício, tem sido usado ao longo do tempo para ilustrar as idealizações e expectativas criadas sobre a realidade. Vez por outra, a história também é lembrada como exemplo da relação empática do homem com objetos semelhantes a ele, mas que carecem de vida. De certa forma, Galeteia é um dos mais antigos robôs da ficção.


Com o aprimoramento dos sistemas de inteligência artificial, as máquinas que os utilizam se tornaram indispensáveis no dia a dia. Se ainda não existem androides enfermeiros, cozinheiros, faxineiros etc. (algo, contudo, esperado para um futuro não tão distante), é fato que não se vive mais sem o GPS que conversa com o motorista, o celular que faz reconhecimento de voz e responde a diversas perguntas ou os algoritmos que sugerem filmes e livros na internet, baseados no gosto de cada usuário.

Quando se junta a robótica à inteligência artificial, surgem as Galeteias modernas ; objetos parecidos com humanos ou animais, que ajudam a executar tarefas, como limpar a casa ou ministrar remédios para idosos; podem ser utilizados em funções educativas e, segundo alguns desenvolvedores, também fazer companhia. Como os humanos vão reagir a eles ainda é uma dúvida. Em 2012, um estudo conduzido na União Europeia mostrou que 60% dos cidadãos do continente não querem robôs cuidando de crianças, idosos e doentes. ;A grande maioria disse que eles deveriam ser banidos de áreas tipicamente humanas, como educação, saúde e lazer;, conta a especialista em robótica Angelica Lim, pesquisadora da Universidade de Kioto, no Japão.

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