Ciência e Saúde

Dosagem do cálcio no cérebro pode ser usada para inibir memória, diz estudo

postado em 25/04/2016 06:00


Na saga Harry Potter, o diretor da Escola de Magia, Alvo Dumbledore, tira suas memórias da mente e as guarda em frascos para que, a qualquer momento, possa revê-las ou, caso sejam muito ruins, esquecê-las de vez no fundo do armário. Controlar as lembranças como o bruxo é o sonho de muita gente, especialmente das pessoas que passaram por experiências muito traumáticas que geram recordações dolorosas.

Sem poderes mágicos, o homem precisaria desenvolver alguma fórmula para atingir esse objetivo. Evidentemente, a receita para melhorar ou piorar a memória ainda está distante, mas pesquisadores brasileiros têm uma pista de qual deveria ser o principal ingrediente: o cálcio. Em um estudo com ratos, especialistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostraram que a substância é um dos elementos mais importantes na fixação e no apagamento das lembranças. Os resultados foram publicados recentemente na revista especializada Scientific Reports.

Na pesquisa, os roedores foram treinados a memorizar a posição de obstáculos dentro de uma grande caixa. Os cientistas seguiram um protocolo que faz com que a memória formada dure apenas alguns dias. Os animais, contudo, foram divididos em dois grupos: um de controle, no qual nenhuma outra intervenção foi feita, e um que recebeu drogas que bloqueavam a entrada de cálcio nas células neurais.

Nos ratos do grupo de controle, tudo aconteceu como determinado pelo protocolo: o aprendizado, de fato, desapareceu após três ou cinco dias. Já os demais roedores foram capazes de lembrar a tarefa até mesmo 10 dias depois da consolidação. ;Simplesmente usamos fármacos que bloqueiam a entrada intracelular de cálcio nos neurônios, e isso é capaz de manter uma memória ao longo do tempo, ou seja, impedindo seu esquecimento;, afirma Ricardo Sachser, aluno de doutorado em neurociência na UFRGS e principal autor do trabalho.

Aplicações

Os pesquisadores acreditam que o estudo poderá servir de base para um método seguro que estimule o esquecimento ou a fixação de lembranças a partir da manipulação do cálcio no organismo. ;Uma vez que você entende o mecanismo implicado nessa estabilização/desestabilização, pode evitar que o declínio ocorra. E, no caso das pessoas que sofreram estresse pós-traumático, esse conhecimento pode servir para a criação de um tratamento que acelere o esquecimento;, prevê o pesquisador. ;Porém, é importante lembrar que, em relação a doenças de base genética, como o mal de Alzheimer, essa pesquisa não se aplica, devido a variáveis que não foram calculadas;, salienta.

Renato Anghinah, coordenador do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano de São Paulo, concorda. ;Essa pesquisa dá margem para que, no futuro, possamos produzir medicamentos para evitar ou para acelerar o esquecimento. Ela demonstrou, no nível celular, que, quando inundamos um neurônio com cálcio, isso pode matar a formação da lembrança. Mas, se conseguimos equilibrar de alguma forma a entrada de cálcio, nós podemos até prolongar a fixação da lembrança;, avalia.

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