Ciência e Saúde

Estudos incorporam genes às plantações para afastar ataque de pragas

Atualmente, a doença é controlada por meio de defensivos agrícolas, uma estratégia que custa mais de US$ 2 bilhões por ano ao país e que é cada vez menos eficiente contra o fungo

Roberta Machado
postado em 27/04/2016 06:00

Ferrugem em talos de trigo: pesquisas contra a praga datam dos anos 1950

Técnicas de manipulação genética permitiram a criação de novos tipos de soja, batata e trigo resistentes a fungos comuns na agricultura e que podem levar à perda das safras. Para criar os supervegetais, pesquisadores recorreram ao genoma de espécies silvestres, de onde replicaram e transferiram os genes que protegem as plantas dos micro-oganismos nocivos. Os estudos, publicados na revista especializada Nature Biotechnology, são assinadas por grupos internacionais que incluem um time de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Os brasileiros desenvolveram uma soja capaz de resistir à ferrugem asiática, patógeno que representa a maior ameaça à principal cultura do agronegócio nacional.

[SAIBAMAIS]Atualmente, a doença é controlada por meio de defensivos agrícolas, uma estratégia que custa mais de US$ 2 bilhões por ano ao país e que é cada vez menos eficiente contra o fungo. A solução seria desenvolver uma soja protegida contra o patógeno, uma empreitada que foi assumida por especialistas da UFV em 2008. ;Existe resistência em soja, mas ela, muitas vezes, é isolada e específica. Ela controla alguns indivíduos da população do fungo, mas não outros. A ideia era basicamente procurar, em outras espécies de leguminosas, um gene que conseguisse conferir uma resistência de maior espectro;, conta Sérgio Brommonschenkel, coordenador da pesquisa no Brasil.

O estudo resultou na identificação e no isolamento do gene CcRpp1, presente no feijão-guandu. Os pesquisadores descobriram que a estrutura era responsável por proteger a planta da ferrugem asiática, e encontraram uma forma de transferir essa propriedade para a soja. O processo só foi possível graças às modernas técnicas de genética molecular e clonagem, pois as duas leguminosas, apesar de serem da mesma família, pertencem a espécies distintas. Portanto, o cruzamento por técnicas naturais seria inviável.

A soja criada em laboratório foi cultivada e demonstrou resistência contra o fungo Phakopsora pachyrhizi, indicando que o grão poderia ser combinado com a variação comercial usada por agricultores, resultando em safras produtivas e livres do patógeno. ;Já que o gene está agora na soja, nós podemos fazer a transferência do gene pelo cruzamento com variedades mais adaptadas à nossa condição, por meios de melhoramento convencional;, esclarece Brommonschenkel. Os pesquisadores atualmente estão selecionando novos genes candidatos contra a doença em outros tipos de feijão, que poderiam ser usados para o desenvolvimento de uma soja ainda mais resistente.

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O trabalho brasileiro contou com a colaboração de pesquisadores do Laboratório Sainsbury, do Reino Unido, e da empresa norte-americana DuPont Pioneer. A pesquisa também foi beneficiada pelo financiamento da 2Blades, uma fundação dos Estados Unidos que apoia projetos direcionados ao desenvolvimento de plantas resistentes a doenças. A mesma organização financiou os outros dois trabalhos de criação de alimentos transgênicos publicados na última edição da Nature Biotechnology, entre eles uma cultura comercial resistente contra uma das piores doenças agrícolas de todos os tempos: a requeima da batata. O p atógeno é comum em áreas frias e úmidas e causa destruição em poucos dias.

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