Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Especialistas reforçam a importância do diagnóstico precoce da demência

Pacientes que não sabem que têm a doença correm risco duas vezes maior de protagonizar atividades impróprias, como dirigir e cuidar das próprias finanças, indica estudo norte-americano



Amjad e equipe acompanharam 7.609 pessoas inscritas no National Health and Aging Trends Study, um estudo da universidade norte-americana iniciado em 2011 baseado em informações de beneficiários do sistema de saúde com mais de 65 anos. Os participantes foram divididos pelos cientistas em quatro grupos: com demência diagnosticada; com provável demência, mas não descoberta (apresentaram um desempenho abaixo do limiar em testes cognitivos e/ou entrevistas); como tendo possível demência; ou sem demência.

Todos os voluntários participaram de testes cognitivos regulares e responderam a questionários sobre atividades e condições de vida que são potencialmente perigosas em caso de demência. As entrevistas também abordaram se necessidades básicas desses idosos estavam sendo atendidas, como a frequência e a qualidade da alimentação e do banho, e o uso de roupas limpas. Os resultados mostraram que aqueles com demência não identificada eram significativamente mais propensos a tomar parte em atividades perigosas, se comparados aos com o problema formalmente descoberto. Por exemplo, 28% das pessoas com a doença não identificada dirigiam, contra 17% dos já pacientes formais.

[SAIBAMAIS]Da mesma forma, 12% das pessoas com a demência descoberta lidavam com as próprias finanças, contra 29% dos participantes que ainda não haviam recebido o aval médico. Com relação ao preparo de refeições quentes, os números encontrados foram de 17% e 42%, respectivamente. Em se tratando da gestão dos próprios medicamentos, as estatísticas foram 22% e 50%. ;Essa questão do diagnóstico tardio acontece também no Brasil. Até médicos dizem que a perda da memória e outras condutas do tipo são ;coisa da idade;. A pessoa volta para casa achando que está tudo bem e só se percebe o problema quando ele piorou muito. Aí, já foram perdidos dois, três, cinco anos;, diz Elizabeth Piovezan, diretora-presidente do Instituto Alzheimer Brasil.

Diálogo franco
Amjad também acredita que há uma necessidade de um maior diálogo entre profissionais de saúde, paciente e familiares. Segundo ela, há casos em que o médico descobre a doença, inicia o uso de medicamentos, mas não comunica claramente aos demais envolvidos as razões do tratamento prescrito. ;De um lado, os profissionais podem sentir negação ou minimização dos problemas por parte das famílias e evitar um diálogo franco. Mas, por outro lado, podem não se sentir confortáveis fazendo um diagnóstico firme da demência. Trata-se de um diagnóstico clínico, ou seja, usamos a história e as pistas de teste para chegar à conclusão. Não há nenhum exame para nos dizer claramente, como um de sangue ou de imagem;, complementa.

Piovezan ressalta que a questão do tempo é essencial em se tratando do enfrentamento ao Alzheimer e a outras demências. Usados depois que esse tipo de doença está mais avançado, os medicamentos disponíveis não fazem tanto efeito na amenização dos sintomas, diz a especialista em gerontologia. Além disso, quanto antes for detectada a doença, mais prazo os familiares têm para planejar as mudanças na rotina. ;O ideal é que o próprio paciente participe dessas decisões. Afinal, trata-se do futuro dele;, defende. ;É um caso em que não se pode aprender com os erros. Se o diagnóstico for tardio, as pessoas vão sendo atropeladas pelas necessidades e pelas urgências.;

Estudos sugerem que cerca da metade das pessoas com demência não teve a complicação diagnosticada. A estimativa é de que o problema acometa de 6% a 8% das pessoas com mais de 65 anos. Conforme o Manual Merck de Informação Médica, a incidência vai aumentando com o passar do tempo. O Alzheimer e complicações do tipo estão presente em 30% das pessoas com mais de 85 anos. No caso dos centenários, a estimativa sobe para 50%. A demência caracteriza-se pela diminuição lenta e progressiva da função mental, afetando a memória, o juízo, o pensamento e a capacidade para aprender.