Belo Horizonte ; Três em cada quatro brasileiros sentem dor a ponto de ter atividades diárias comprometidas. O desconforto nos músculos, na cabeça e nas costas é o que mais atrapalha o dia a dia das pessoas. Quem experimenta esse sofrimento busca, principalmente, alívio rápido. O impacto na rotina é tão expressivo que a maioria revela ter de duas a três atividades alteradas, entre elas o trabalho, o sono e o lazer. Mesmo assim, mantém suas obrigações: apenas 6% dos brasileiros interrompem suas responsabilidades em função do problema. Os dados fazem parte da pesquisa A dor no cotidiano, feita pelo Ibope Conecta e pela Pfizer, com 1.007 adultos de todas regiões e classes sociais.
Segundo a fisiatra Lin Tchia Yeng, do Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), sentimos dor devido a algum desbalanço entre estímulos dolorosos vindos do meio externo e/ou interno do organismo e também pelo grau de capacidade do corpo em lidar com eles. ;Quando persiste por mais tempo, ou não é controlada adequadamente, há impactos em áreas do cérebro que podem comprometer o humor, o bem-estar, a capacidade de raciocínio, a concentração e até a qualidade da execução das atividades do dia a dia.;
O fato de tantas pessoas se queixarem de dor atualmente pode ter relação direta com a sociedade contemporânea, diz a especialista. ;A vida muito corrida provoca o aumento de estressores físicos e emocionais, e promove as multitarefas, o sedentarismo e a alimentação fast food. Esses aspectos estão totalmente conectados às queixas das pessoas com dor;, comenta Yeng. Homens e mulheres, porém, fazem reclamações distintas. Enquanto a dor de cabeça afeta principalmente elas, em todas as faixas etárias, e jovens de 18 a 34 anos; a nas costas é a principal queixa dos homens entrevistados.
Pior nelas
A dor precisa ser encarada como um alerta do organismo que, quando não tratado, pode evoluir para uma doença: a dor em si. A Associação Internacional dos Estudos da Dor (Iasp) define a sensação como uma experiência física e emocional desagradável, associada ou relacionada a uma lesão real ou potencial dos tecidos. Já a forma como a dor se expressa e é sentida difere em função da cultura, das experiências prévias de cada pessoa com esse tipo de sofrimento e também do gênero.
As mulheres têm mais tendência a sentir diferentes tipos de dor por questões hormonais, genéticas e sociais. A dupla ou tripla jornada de trabalho, por exemplo, as deixa mais suscetíveis a desenvolver dores musculoesqueléticas crônicas. A fibromialgia é um dos casos, acometendo sete mulheres para cada homem. A artrite reumatoide, doença autoimune, que tem como sintomas clássicos a dor, o inchaço e a rigidez nas articulações, também atinge mais o público feminino: são três para cada homem.
Aos 19 anos, Raiane Priscila de Souza Andrade precisa rotineiramente trocar a escola pelo hospital. Diagnosticada com síndrome dolorosa complexa regional, em 2013, sua hipersensibilidade é tão grande que, muitas vezes, não suporta o toque. ;Não consigo ir à escola porque é tanta dor que não me concentro;, lamenta a jovem, que vai duas vezes por semana à Clínica de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG).
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