Belo Horizonte ; A Marinha do Brasil, em parceria com universidades e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), trabalha em um sistema de dessalinização nuclear cujo objetivo é tanto tornar a água do mar potável quanto produzir energia. O país tem, hoje, apenas uma usina que transforma o oceano em líquido potável, em Fernando de Noronha (PE), e a ideia é utilizar reatores modernos no novo projeto.
Garantir a segurança hídrica é uma preocupação brasileira atual, tendo em vista a redução nos níveis dos reservatórios de água que abastecem grandes metrópoles e preocupa especialmente estados como São Paulo e Minas Gerais. O processo de dessalinização por reatores nucleares é uma forma de garantir um abastecimento mínimo, seja para a população, seja para a agricultura, mas também pode ser uma fonte de energia para pequenas cidades.
;As atividades programadas para esse projeto, a cargo do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), focam a geração de energia térmica para uso no processo de dessalinização, por meio de energia nuclear, gerada em reator do tipo PWR (sigla em inglês para reator de água pressurizada). Esse tipo de tecnologia se baseia no que está em construção e montagem mecânica no Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (Labgene), no Centro Experimental Aramar;, explica Flávio Augusto Viana Rocha, diretor e contra-almirante da Marinha do Brasil.
O projeto tem ainda outros aspectos importantes, como o incentivo à formação de mão de obra e o desenvolvimento socioeconômico da região na qual será implantado o processo de dessalinização. ;Entre os benefícios, estão a melhor e a maior disponibilidade de recursos hídricos, associados à geração de energia térmica/eletricidade, para cidades de 150 mil pessoas, em média, valor esse a ser balizado durante o projeto;, acrescenta Rocha. O local a receber o reator ainda não foi definido.
As principais características do reator incluem geradores de vapor, bombas, pressurizador e mecanismos de comando das barras de controle no interior do vaso da contenção, com o núcleo, barras de controle e blindagem de nêutrons. O projeto que está sendo desenvolvido contemplará novos requisitos de segurança, exigidos pelos órgãos reguladores após o desastre nuclear que aconteceu em Fukushima, no Japão, em 11 de março de 2011. Entre eles, a disposição de equipamentos e dispositivos de segurança capazes de refrigerar o núcleo derretido e minimizar os danos de um possível acidente nuclear.
Segurança
Auro Pontedeiro, assessor da Presidência e um dos coordenadores do projeto, explica que a diferença entre a iniciativa atual e as usinas nucleares Angra 1, 2 e 3 é que essas foram construídas na década de 1970 com reatores da Geração II (GII). Segundo ele, os projetos de reatores GIII têm sistemas de segurança mais avançados ; enquanto os anteriores são dependentes de operação elétrica ou mecânica, os atuais são acionados pela força da gravidade e pela circulação natural do fluido refrigerante, independentemente da disponibilidade de energia elétrica.
O especialista ressalta ainda que os principais benefícios para a população brasileira dizem respeito à sustentabilidade hídrica, energética e alimentar advindas do projeto, principalmente na região onde será instalado o reator. ;Um único reator de 75MW(t) pode produzir água suficiente para abastecer 1,4 milhão de pessoas ou produzir 47.450t/ano de milho. Diversos pequenos reatores podem ainda ser montados em clusters, aumentando a produção proporcionalmente;, diz.
O projeto é divido em três etapas: a primeira diz respeito ao desenvolvimento do projeto conceitual com estimativa de dois anos; a segunda prevê o desenvolvimento de um sistema computacional para apoio à decisão e uma planta-piloto para dessalinização com previsão de mais dois anos. Na última fase, será feita a análise de segurança final do projeto com previsão preliminar de duração de dois anos.
A matéria completa está disponívelaqui, para assinantes. Para assinar, clique