Ciência e Saúde

Zika se espalha, mas ameaça pouco os turistas do Rio de Janeiro

Estrangeiros que virão ao Rio correm risco pequeno de serem infectados pelo vírus, estimam especialistas americanos. Porém, número de doentes na América Latina pode ultrapassar 93 milhões durante a atual epidemia, gerando "dezenas de milhares" de casos de microcefalia

postado em 26/07/2016 06:00

Ação de combate ao Aedes aegypti no Rio: total de turistas que contrairão o vírus durante as Olimpíadas não deve passar de 80

Dois estudos divulgados ontem sobre a epidemia de zika têm o poder de gerar sentimentos opostos: tranquilidade e apreensão. Enquanto uma pesquisa realizada pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, afirma serem muito baixos os riscos de os turistas que virão aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro contraírem a doença, um artigo produzido por americanos e ingleses estima que dezenas de milhares de bebês podem nascer com os severos transtornos associados ao vírus durante a atual epidemia na América Latina e no Caribe.

No primeiro trabalho, coordenado por Joseph Lewnard, um aluno de doutorado do Departamento de Epidemiologia de Doenças Microbianas de Yale, os autores reuniram os dados mais recentes sobre a doença e as projeções de visitantes que a capital fluminense deve receber nas próximas semanas para estimar quais são as chances de os turistas estrangeiros serem infectados pelo zika e ajudarem a levar o vírus para seus países de origem.

A equipe trabalhou com um número entre 350 mil e 500 mil viajantes de agosto a setembro e optou por ser bastante pessimista, realizando os cálculos como se os turistas tivessem o mesmo risco de exposição ao vírus que a população geral da cidade. Lewnard explica que esse cenário é muito pouco provável porque a maioria dos visitantes ficará acomodada em lugares com ar-condicionado ou tela nas janelas, o que garante proteção extra. Além disso, essas pessoas têm sido orientadas a adotarem medidas de prevenção, como o uso contante de repelentes.

Mesmo optando pelo cenário mais pessimista, os cientistas chegaram a números modestos. A chance de um estrangeiro ser infectado não é maior que uma em 6.200. De todos os turistas que virão ao Rio, portanto, apenas entre seis e 80 deverão ser infectados pelo zika, sendo que, desses, entre um e 16 deverão apresentar sintomas. ;Como poucas mulheres grávidas devem comparecer ao evento, devido às advertências feitas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), essas estimativas reiteram declarações anteriores do baixo efeito pessoal do zika sobre viajantes;, escrevem Lewnard e colaboradores no estudo, publicado na revista especializada Annals of Internal Medicine.

Tendo como base a Copa do Mundo de 2014, os autores dizem ainda que a maior parte dos turistas (53%) virão dos Estados Unidos, do Canadá, da Europa, da Oceania, do Japão, da Coreia do Sul e de Israel, lugares em que a possibilidade de eles transmitirem o vírus por meio do mosquito Aedes aegipty depois que voltarem para casa é baixa. Para esses locais, a maior ameaça seria a de transmissão por via sexual.

Bebês

Se os estrangeiros que prometem lotar os hotéis do Rio podem ficar mais calmos com relação ao zika, o mesmo não pode ser dito para as mulheres que vivem na América Latina e no Caribe. Em outra pesquisa, esta divulgada na revista Nature Microbiology, especialistas afirmam que o total de infectados na região durante a atual epidemia pode chegar, no pior dos casos, a 93,4 milhões de pessoas, entre elas 1,65 milhão de mulheres grávidas.

Aproximadamente 80% das infecções são benignas ou passam inadvertidas, reconhecem os autores, mas ;dezenas de milhares; de recém-nascidos podem sofrer com as malformações associadas ao zika, ou seja, microcefalia e outros transtornos neurológicos. Acredita-se que a epidemia deve durar mais dois ou três anos.

O Brasil deve continuar liderando o ranking de infectados, com esse número podendo chegar a 37,4 milhões de pessoas. Em seguida, aparecem México (14,9 milhões), Venezuela (7,4), Colômbia (6,7), Cuba (3,7), Haiti (2,9), Argentina (2,7), República Dominicana (2,6) e outros 15,6 milhões divididos por outros países. Até o momento, 1.709 casos de microcefalia associada ao zika vírus foram comprovados no território brasileiro.

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