Ciência e Saúde

Cientistas criam droga que inibe o crescimento do câncer de pulmão

A substância poderá ser usada contra um dos tipos mais comuns da doença e ainda sem tratamento eficaz

Isabela de Oliveira
postado em 04/08/2016 06:00

A substância poderá ser usada contra um dos tipos mais comuns da doença e ainda sem tratamento eficaz

O câncer de pulmão é responsável por cerca de um terço de todas as mortes provocadas por tumores malignos. Os adenocarcinomas ; tipo de câncer pulmonar nas células não pequenas ; responde por até 40% dos diagnósticos da doença, mas poucos tratamentos estão disponíveis para tratá-los. Na revista Science Translational Medicine, um consórcio internacional de pesquisadores detalha um novo tratamento capaz de inibir a progressão do carcinoma utilizando um medicamento já testado em humanos nos Estados Unidos.

Com cientistas da Universidade de Cingapura e da Universidade de São Paulo (USP), Elena Levantini, pesquisadora sênior do estudo e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, identificou marcadores tumorais que permitem a identificação de quais pacientes com adenocarcinomas serão favorecidos pela nova droga. Um desses marcadores é a baixa expressão de C/EBPa, fator de transcrição que regula a expressão genética e a proliferação de células nos tecidos pulmonares.

A representante brasileira participou ativamente dessa etapa da pesquisa. Professora da USP, Daniela Basseres conta que se envolveu no projeto em 2002, durante o pós-doutorado no laboratório de Daniel Tenen, coautor do estudo e também pesquisador de Harvard. Inicialmente, ela descobriu que o C/EBPa está envolvido no desenvolvimento e na diferenciação dos pulmões. No entanto, ao investigar a função dessa proteína no câncer, Basseres constatou que ela também atua como um supressor da doença.

;Isso permitiu a geração de modelos animais geneticamente modificados e, neles, induzimos a perda de C/EBPa Por esse modelo, confirmamos que o C/EBPa atua de fato como um supressor tumoral, uma vez que a perda de expressão dessa proteína desencadeou o aparecimento de tumores pulmonares em 33% dos camundongos;, conta Basseres. O C/EBPa age restringindo a expressão de outra proteína, a BMI1. Conhecida por desencadear e manter o crescimento de cancros, essa molécula também está associada ao câncer de cólon, de mama, gástrico e à leucemia.

Para determinar a relação entre a duas proteínas, os investigadores alteraram células de adenocarcinoma humano a fim de que superexpressassem uma delas, o fator de transcrição C/EBPa. Quando isso ocorreu, os cientistas notaram a redução dos níveis de BMI1. Ao analisarem tecidos de 261 pacientes com cancro pulmonar nas células não pequenas, perceberam uma correlação inversa entre as duas moléculas: mais de 80% dos tecidos de doentes com níveis baixos de C/EBPa apresentaram expressão elevada de BMI1. No entanto, tecidos com pouca ou nenhuma expressão de C/EBPa, mas com níveis igualmente baixos de BMI1 pertenciam a pacientes com melhor prognóstico e maior chance de sobrevivência.

Efeitos confirmados

Os resultados foram validados em animais. Ao manipular a expressão da BMI1 em cobaias, os investigadores descobriram que a diminuição da expressão dessa proteína foi suficiente para inibir totalmente a formação de tumores e significativamente o crescimento tumoral. ;Como a BMI1 é altamente expressa em muitos tumores além dos de pulmão, a terapia voltada para essa proteína pode deter boas promessas para muitos pacientes;, acredita a principal autora.

A droga PTC-209 é a aposta dos cientistas. Daniela Basseres explica que a pequena molécula derivativa do aminotiazol inibe a expressão da BMI1. ;O mecanismo de ação desse inibidor, ou seja, como ele causa inibição da expressão de BMI1, ainda precisa ser determinado;, pondera. Levantini completa que outra substância parecida, produzida pela mesma companhia farmacêutica, está em testes de fase I nos Estados Unidos em humanos. ;É importante dizer que ainda não podemos curar o câncer de pulmão, mas essa droga visa um gene altamente expresso em tumores e, por isso, não é uma quimioterapia generalizada, mas molecularmente sintonizada para combater um oncogene, contribuindo para frear o crescimento do tumor;, completa a líder da pesquisa.

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