Ciência e Saúde

Casa desorganizada pode indicar alguma dificuldade emocional

Guardar objetos que têm significado especial faz parte da construção da identidade

Vilhena Soares
postado em 25/09/2016 08:00
Guardar objetos que têm significado especial faz parte da construção da identidade

;Não repare a bagunça; é a frase mais usada pelo anfitrião surpreendido com a casa em desordem. Um grupo de pesquisadores norte-americanos decidiu ignorar o pedido e fazer justamente o contrário: prestar muita atenção na bagunça dos lares. A conclusão? Um ambiente muito caótico, especialmente devido ao acúmulo excessivo de objetos, tem o poder de prejudicar outros aspectos da vida da pessoa, como sua sensação de bem-estar geral e sua vida social.

Joseph Ferrari, professor de psicologia da Universidade do Novo México, e principal autor do trabalho, explica que seu objetivo era avaliar os impactos emocionais da desordem provocada pelo excesso de objetos em casa. Ele diz que muitas pessoas sofrem com o problema, descrito por ele como uma ;superabundância de posses; que gera um ambiente doméstico caótico e desorganizado. É um comportamento um pouco diferente dos chamados acumuladores, que costumam colecionar muitos itens de um mesmo tipo de objeto, como jornais ou sacos plásticos. Já para os ;superdesorganizados;, qualquer coisa merece ser guardada, e aí, manter a casa arrumada se torna quase impossível.



Segundo o especialista, a origem desse hábito está na necessidade de tornar o ambiente mais acolhedor e íntimo, algo parecido com o desejo de decorar o escritório com itens pessoais. ;Há algo sobre nossos bens que os tornam nossa identidade, o que somos;, explica ao Correio. O problema é que, para alguns indivíduos, essa relação entre objetos e identidade pode se tornar um problema, a ponto de qualquer quinquilharia se tornar demasiadamente importante.

Impacto

Para investigar o tema, Ferrari e colegas contaram com a participação de 1.600 adultos que moram nos Estados Unidos e no Canadá e que já tinham procurado ajuda de uma entidade que ajuda pessoas com o problema. A média de idade dos participantes era de 54 anos, a maioria era casada e 78% eram proprietários do local onde moravam. O primeiro ponto que chamou a atenção dos autores foi a pouca procura de homens no serviço de apoio.

;Ficamos surpresos de ver que, em nossa amostra de 1.600 indivíduos, apenas 70 eram homens;, conta. O dado levou a equipe que se tratava de um problema tipicamente feminino, mas uma investigação mais aprofundada revelou que não era essa a explicação. ;Percebemos que os homens, de maneira geral, simplesmente não tomam nenhuma providência sobre isso;, esclarece o autor.

Os voluntários responderam a um questionário que abordava tanto aspectos sobre a casa quanto fatores emocionais. Os resultados, publicados na revista especializada Journal of Enviromental Psychology, mostraram que a maioria das pessoas tinha dificuldade em apontar sensações positivas ligadas ao lar, como considerá-lo seguro. Além disso, foram baixos os níveis de bem-estar e altos os sinais de problemas nos relacionamentos sociais.

;À medida que a desordem cresce, ela exige mais atenção. Tudo que importa é forçado a sair de sua vida. Você para de ver seus amigos, de ver a sua família, não trabalha mais tanto. Quando temos muitas posses, elas podem se transformar em desordem, e mostramos com o estudo que isso tem um impacto;, detalha Ferrari.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação