As emissões globais de metano, potente gás do efeito estufa, podem ser o dobro das estimativas atuais, colocando um desafio adicional na luta contra as mudanças climáticas - disseram pesquisadores nesta quarta-feira (5/10).
O novo estudo está baseado em uma base de dados 100 vezes maior do que as analisadas anteriormente e utiliza uma metodologia que evita suposições discutíveis relativas a modelos anteriores.
Dentro do cálculo, a emissão de metano durante a produção e a utilização de gás natural, de petróleo e de carvão é de 20% a 60% maior do que se pensava, segundo um estudo publicado na revista científica Nature.
"Os inventários de emissões e os estudos atmosféricos subestimaram as emissões de metano a partir dos combustíveis fósseis", disse à AFP o autor principal do estudo, Stefan Schwietzke, cientista do National Oceanic and Atmospheric Administration dos Estados Unidos.
As emissões da indústria e de fontes geológicas naturais combinadas "são de 60% a 110% maiores do que as estimativas atuais", disse ele.
As novas descobertas podem ter sérias implicações para os esforços globais para limitar o aquecimento global "bem abaixo" de 2;C, como prevê o Acordo de Paris sobre o Clima, que entrará em vigor no próximo mês, dizem os especialistas.
"Cenários de emissões atualmente utilizados para a previsão do clima precisam ser reavaliados, levando-se em conta os valores revisados para as emissões de metano geradas pelos humanos", disse o professor Grant Allen, da Universidade de Manchester, ao comentar o estudo.
Em outras palavras, atingir a meta de temperatura promovida pela ONU pode ser ainda mais difícil do que se pensava.
Embora não seja tão abundante, ou de longa duração como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) é 28 vezes mais eficiente na retenção de calor na atmosfera da Terra em um período de tempo de 100 anos.
É o segundo maior contribuinte para o aquecimento global depois do CO2, o que representa cerca de um quinto do aumento da temperatura acumulado desde o início da Revolução Industrial na metade do século 18.
Especialistas discordam sobre o porquê, mas os combustíveis fósseis não são, aparentemente, os maiores culpados pelo aumento acentuado dos níveis de metano na atmosfera nos últimos anos, segundo o estudo.
"As emissões de metano a partir do desenvolvimento de combustíveis fósseis foram dramaticamente subestimadas", disse Schwietzke à AFP.
"Mas eles não são responsáveis pelo aumento no total das emissões de metano observadas desde 2007", completou.